domingo, 21 de dezembro de 2025

O Evangelho segundo o Bolsonarismo

 


Silas Malafaia entrou em cena para cumprir seu papel clássico: não explicar fatos, mas exorcizá-los. 


A Polícia Federal apreende cerca de 430 mil reais em dinheiro vivo ligados ao líder do PL na Câmara, operação autorizada pelo STF, investigação por desvio de cotas parlamentares, lavagem e organização criminosa. A resposta do pastor não é contábil, nem jurídica, nem racional. É escatológica: estamos virando a Venezuela.


Repare no truque. Quando surge dinheiro vivo, a culpa nunca é do dinheiro. Quando surge mandado judicial, o problema nunca é o crime. Quando surge investigação, ela vira invenção. Tudo é pescaria, tudo é complô, tudo é perseguição. A PF deixa de ser polícia e vira vilã de culto. O STF deixa de ser tribunal e vira demônio. A realidade vira inconveniente.


Malafaia não discute o essencial. Não explica por que um líder partidário anda com centenas de milhares de reais em espécie. Não comenta contratos suspeitos, assessores investigados, escalada de indícios. Ele pula direto para o apocalipse retórico, porque é onde sempre se refugia quando os fatos batem à porta.


O roteiro é conhecido. Dinheiro aparece, a Bíblia entra em cena. A investigação avança, surge a Venezuela. A Justiça age, gritam ditadura. É o bolsonarismo em estado puro, com verniz evangélico: transformar suspeita penal em batalha espiritual e investigação criminal em perseguição religiosa.


Não é defesa; é cortina de fumaça ungida. Não é fé; é método. Não é profecia; é álibi.


Quando pastor vira comentarista de inquérito e troca prova por gritaria, não é o Brasil que está virando Venezuela. É a moral que está virando fumaça. E o caixa, curiosamente, continua muito sólido.

Crédito: Escritor e advogado Julio Benchimol Pinto 

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