O caso Banco Master virou um retrato do Brasil em modo curto-circuito: uma denúncia jornalística explode, o país escolhe torcida em cinco minutos e, no fim, ninguém sabe mais diferenciar reportagem, nota oficial e prova.
A sequência é conhecida. Saiu na imprensa que Alexandre de Moraes teria procurado Galípolo, no Banco Central, para tratar de assunto ligado ao Master/BRB. Moraes negou, disse que o tema era Lei Magnitsky. O Banco Central confirmou reuniões e sustentou a mesma versão. Paralelamente, estourou a história do contrato milionário atribuído ao escritório ligado à esposa do ministro com o Banco Master. E, como se não bastasse, veio o componente processual: Toffoli mantém acareação em pleno recesso, o BC reclama formalmente e o ruído institucional vira barulho de estádio.
Aí nasce a confusão fatal: gente exigindo que o jornalismo apresente prova judicial para poder publicar, e gente tratando uma reportagem como se fosse sentença transitada em julgado. Os dois lados estão errando. Jornalismo investigativo não é processo penal: ele pode publicar suspeitas bem apuradas, cruzadas, verificáveis dentro do possível, preservando fontes. Isso é parte do jogo democrático. Só que publicação não é condenação. Suspeita não vira fato por aclamação. E nota oficial negando não vira inocência por decreto.
Se você quer consequência séria - crime, punição, impeachment, afastamento, condenação moral definitiva -, aí não tem atalho: ônus da prova é de quem acusa. Documento, nexo, ato concreto, cadeia de evidências. Sem isso, o país vira uma máquina de linchamento alternado: hoje o alvo é um ministro, amanhã é um jornalista, depois um regulador, depois você.
O Brasil não está precisando de mais fé, nem de mais histeria. Está precisando de método. Cobrar transparência do poder e rigor da imprensa ao mesmo tempo. Porque quando a gente troca prova por torcida, o único vencedor é o esperto - aquele que sabe se esconder no ruído.
Crédito: Escritor e Advogado Julio Benchimol Pinto

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