A gente envelhece
Quando olha pra trás
E vê o quanto foi feliz
E não é mais.
Até lembra da prece
Que a mãe fazia
Antes de dormir,
Mas não dormia.
E acordava assim
Pra tomar o café.
Depois, pra escola,
De bicicleta ou a pé.
Às vezes ria do que chora,
Mas não reclamava,
Ou caía na palmatória.
Por isso, era feliz?
Não — tinha à frente
O mundo inteiro
Pra ser gente,
E agora só resta
Um facho de luz
Que, quando anoitece,
Fica babatando o muro
Depois que se envelhece.
Feliz era ser criança,
Cuja responsabilidade
Era sonhar com a vida mansa
Que advinha do futuro,
Pra quando raiasse o dia,
Ainda com o dia escuro,
Todo mundo fosse feliz,
Sem dor e sem vício.
Era só o que quis,
E, por tudo isso,
Antes de chegar a velhice,
A gente só envelhece
Quando olha pra trás
E se esquece
De que já foi feliz.
Crédito: Escritor Achel Tinoco
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