segunda-feira, 7 de agosto de 2023

O Patinho de Uma Asa Só

Escritor Achel Tinôco 

Um estalido foi ouvido pela mamãe Paty, que se levantou, sacudiu as penas, fez do pescoço um grande arco, de modo que, com a ponta do bico voltado para baixo, arrumasse os ovos. Juntou-os mais, como para permanecerem aquecidos. Deitou-se sobre eles novamente e fechou os olhos como se sesteasse. 

Um a um, os patinhos foram quebrando a casca dos ovos: o bico, a cabeça, o pescoço, o tronco inteiro... Pularam para fora do ninho, todos amarelos ainda, dispostos, fortes e bem nascidos. Contou-os, finalmente, a mãe: doze. Fez um quen, quen, quen, quen para que todos se juntassem atrás dela, a caminho da lagoa, à meia distância do paiol, onde fora ajeitado o ninho. Paty seguia à frente, rebolosa, majestosa, orgulhosa. A dúzia de patinhos ia atrás, instintivamente: uns que tropeçavam, pisavam os outros, corriam, paravam. 

Chegaram à margem da lagoa. 

Os patinhos esparramaram-se: boa parte bicava talinhos de capim, uns invertebrados desprevenidos; outra olhava em redor, como se o mundo ainda não lhes fosse conhecido. O céu tinha contornos azuis com pintinhas amarelas, qual fossem irmãs ou parecidas com os patinhos cá de baixo. Tinham muito que ver. 

A mamãe Paty olhou-os, contou-os novamente — doze —, e adiantou-se a passos medidos para precipitar-se na água. Os patinhos a seguiam pegados nas patas. Ela mergulhou graciosa e emergiu lá adiante; eles entraram desordenadamente pelas águas escuras a nadar em volta da mãe. Uns enfiavam o pescoço para dentro da água morna, outros batiam as asinhas, molhando-as. Ainda havia aqueles que se sacudiam e deslizavam na superfície como se tivessem rodinhas em vez de patas. 

Lá para depois, a mamãe Paty enfiou, uma vez mais, a cabeça para dentro d’água. Não demorou um piado e trouxe agarrada ao bico um peixinho miúdo, que a ela não importava a espécie nem o nome. Não confirmou aos filhotes; queria apenas ensinar-lhes as primeiras lições. De repente, pareceu-lhe ouvir distante um quen, quen infantil. Olhou para um lado, para o outro, levantou a cabeça, aprumou os ouvidos. Ora, os filhotes estavam todos à sua volta... Estavam? Tornou a contá-los: onze. Onze? Correu em disparada por sobre as águas a ponto de quase voar e voltou à margem para ver qual dos meninos ficara para trás e por quê. Encontrou o caçula, cujo nome, naquele exato momento, ela deu-lhe de batismo: Extraviado. Estava escondido atrás de uma moita de piri com o bico enterrado na lama e os olhos mareados. Chegou-se para junto dele:

 — Que foi, meu filho, por que não seguiu os seus irmãos ao primeiro banho? —  perguntou.

 — Não posso, mamãe, você não está vendo...?

 — Vendo o quê, menino? — já trazia no bico certa impaciência.

 Extraviado não conseguiu se explicar:

 — Ora, mamãe, não sou como os outros...

 — Meu querido, não há problema algum com você. É um belo rapazinho, igual aos seus irmãos. Em breve, não haverá uma patinha nas redondezas em cujas asas não poderá repousar as patas por cima.

 Extraviado levantou o pescoço da terra e se encaminhou, meio de banda, para debaixo das asas da mãe. Foi aí que ela o viu em toda a sua plenitude e notou a deformidade:

 — Meu Deus! — ficou apavorada.

 Ele não tinha uma asa. A direita. 

 A mãe aconchegou-o sob as penas e ficou a pensar na vida do filho: ele não poderia fazer as coisas que os irmãos certamente fariam. Coisas simples como nadar na lagoa e pescar. Como um pato viveria sem essas habilidades? O mundo não era feito para patos sem asas. Melhor que fosse cego: que lhe faltasse uma pata, chegou a pensar. Não. Melhor que fosse saudável como os irmãos. Desfez-se das lágrimas, fez quen, quen para que os outros saíssem de dentro da lagoa e levou-os para casa. Não tornou a contá-los; estavam todos atrás dela, tinha certeza, instinto de mãe. Não nomeou outro patinho. Para ela somente Extraviado deveria ter nome. Pensava que seria uma forma de homenageá-lo pelo fato de ele ser deficiente. Tal honraria, portanto, caber-lhe-ia em detrimento dos outros, saudáveis e sem problemas aparentes. 

Cobriu Extraviado de mimos e cuidados, como se ele fosse já inválido completo, e não apenas impossibilitado de nadar. Por enquanto. Os irmãozinhos começaram a sentir ciúmes de Extraviado. Não entendiam por que somente ele tinha nome e precisava de tantos cuidados e atenção. Na verdade, não era inválido, tão somente tinha alguns movimentos do corpo prejudicados, mas, nas peraltices de criança, era o mais levado. Os irmãos, zangados com a proteção que mamãe Paty dispensava ao caçula, começou a chamá-lo de Asa Negra. Na escola, os colegas não deixavam por menos. Chamavam-no de Asa Caída. Não raro, o patinho chegava em casa chorando, não suportava as brincadeiras dos colegas, que considerava de mau gosto e injustificáveis, e os tantos apelidos infames que lhe davam: Asa de Urubu, Asa Só, Asa Cotó, e por aí em diante. 

 — Mamãe, não quero ir mais pra escola — disse amuado.

 Paty já sabia os motivos, mas procurava, a todo custo, animá-lo:

 — Meu filho, não dê importância às brincadeiras. Coisas de crianças!

 O menino, então, contou-lhe o que lhe dissera a professora Gansa Maria:

 — Explicou-me que a isso dá-se o nome de bullying. É uma coisa muito feia de se fazer com um colega. Mas os colegas não lhe deram atenção e continuam a me desfazer.

 Mamãe Paty olhou-o penalizada: 

 — O que você disse a ela? — perguntou como para tentar entendê-lo melhor.

 — Que Deus só existe para alguns...

 Paty estremeceu. 

 No dia seguinte, logo cedo, Extraviado saiu de casa sem dizer destino. Saiu de banda pela encosta da cerca e dirigiu-se à beira da lagoa. O sol ainda espreguiçava-se atrás das matas, uma brisa suave corria no entorno da lagoa. Chegou à beira d’água e ficou a contemplar o espelho. Assustou-se ao ver-se grande assim: as penas bem definidas e de uma cor acinzentada, as patas fortes, as membranas largas entre os dedos, o olhar avermelhado. Estava gordo, vistoso, bonito. Enfiou o pescoço dentro d’água e viu passando lá abaixo alguns peixes. Não fez menção de pegá-los, não sabia pescar, nunca tivera interesse. Mas tinha em mente uma vontade incontrolável de fazer algo que chamasse atenção de toda a gente e toda a pataria da região. 

Pensou na mamãe Paty, sempre tão conformada, atenciosa. 

 Na cozinha, Paty preparava umas piabinhas fritas para dar de comer aos meninos. Ia lá, vinha cá, entrava e saía. Não viu Extraviado. Gritou-o, fez quen, quen, quen, quen. Nada. Puxou as penas do rabo dos dois mais velhos, que teriam mangado dele na noite passada, e saiu em disparada pelo caminho da lagoa. Os onze maiores seguiram-na atrás. De longe, viu-o no meio da lagoa, subindo e descendo, puxando pelo bico a professora Gansa Maria. Levou uma pata ao bico:

 — Deus do céu, meu filho!

 Na borda, toda a classe assistia impassível à cena. 

 Extraviado, trouxe-a para a margem. Tinha engolido alguns goles d’água. Em poucos minutos, estaria recuperada.

 Quando ele chegou à beira da lagoa, indagorinha, avistou, do outro lado, a professora e todos os colegas navegando pela margem. Acenou com a asa que tinha; não o viram. A professora foi a primeira a pular nas águas, para mostrar aos alunos como deveriam nadar e pescar. Nem bem deu as primeiras patadas, foi acometida de fortes câimbras, que a impossibilitava de continuar nadando. Pior: estava longe da margem e não tinha patas para nadar de volta. Gritou:

— Socorro!

Nenhum dos alunos ousou aventurar-se nas águas para salvá-la. O medo impusera-lhes às patas um modo de paralisia que não os deixou atirar-se para salvar a pró. Ficaram como petrificados à beira da lagoa esperando, decerto, que caísse do céu algum anjo para salvá-la. Não desconfiavam de que “ele” estava bem ali, do outro lado.

Extraviado não pensou duas vezes; sequer lembrou-se de que nunca havia nadado antes. Ao ver a professora Gansa Maria afogando-se, atirou-se nas águas. Bateu as patas com toda força, mantendo a cabeça para fora, e deslizou de banda até chegar à pró, que já desfalecia. Trouxe-a com muito esforço agarrada pelo bico. 

 Os colegas, bestificados, envergonhados, aplaudiram-no exaustivamente. Era um herói. Uma patinha beijou-o na cabeça, chamando-o de Asa Bendita:

 — Meu pato-rei — completou. 

 Gansa Maria disse comovida:

 — Estão vendo? Ser diferente não quer dizer que somos incapazes. — E arrematou:  — Agora quero saber: quem entendeu o significado de bullying? 

 Entreolharam-se em silêncio. Nada mais do que isso:

 — Quen, quen!

 Mamãe Paty não conteve a emoção:

 — Este é o meu filho.

 Extraviado bateu sua asa única com orgulho.

Ex- vereador e irmão são mortos no Rio de Janeiro

 

Nesta segunda-feira (7) o ex- vereador Jair Barbosa Tavares, conhecido como Zico Bacana e seu irmão Jorge Tavares foram assinados em ataque a tiros na esquina das ruas Enéas Martins com Francisco Portela, em Guadalupe, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma terceira pessoa também foi ferida. Está foi o segundo atentado contra o ex- vereador que foi investigado na CPI das Milícias.

Morre no Rio de Janeiro a atriz Araci Blabanian

 

Faleceu nesta segunda-feira (7) Araci Blabanian aos 83 anos, a eterna Cassandra de Sai de Baixo. A artista estava internada na Clínica São Vicente na Gávea , zona sul do Rio de janeiro para tratar de um câncer de pulmão.

O Blog Ibirataia presta seus sentimentos de pesar aos familiares, amigos e fãs.

domingo, 6 de agosto de 2023

Acidente de trem no sul de Paquistão deixa varios mortos

 

Na manhã deste domingo(6) o trem Hazara Express descarrilou com quase 1.000 passageiros, o acidente aconteceu perto da estação de Sahara, na altura da cidade de Nawabshah, na província do Sindh. E deixou dezenas de feridos e mortos.

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Dia Do Padre

 

No dia 4 de agosto é comemorado o dia do Padre. Queremos expressar nossa gratidão aos Padre Jamil e Padre Nilson, da Igreja São José da cidade de Ibirataia por sua perseverança em cumprir a missão de levar amor e a palavra de Deus a todos.




Bruno Henrique garante vitória do Flamengo

 

Ontem (03) no Maracanã na Copa de Libertadores o Flamengo ganhou de 1 a 0 do Olímpia com um gol do jogador Bruno Henrique. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Médico que estava desaparecido é encontrado morto

 

O médico Gabriel Paschoal Rossi, de 29 anos, estava desaparecido desde o dia (26) depois de deixar o plantão no Hospital Cassems em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Foi encontrado na manhã de quinta -feira(3) com os pés e mãos amarados.

 A Polícia Civil de Dourados investiga a morte do médico.

Doar é um ato de amor

 

O pastor Fernando Massaranduba Medeiros, da Assembleia  de Deus, Ministério  de Ilhabela, São Paulo, juntamente  com outros irmão vem ajudando o povoado, chamando Viagem, em Mutarara um dos cincos distrito da província de Tete, em Moçambique na  África apesar das dificuldades que este povo guerreiro vive, a fé em Deus é sempre maior.

      Video do Pastor Marco Viagem.

Água suja é uma das principais causas de diarréia em crianças é a principal causa de mortalidade infantil no país. Sua doação proporciona saúde e melhor qualidade de vida.
Cavar o poço 2.000 MT

Fazer as paredes do poço:
-7 Sacos de Cimento 700=4900 MT .
-1500 Tijolos 2=3000 MT .
-2 Varão nr 10 260=520 MT. 
-2 Kilos de Arrame 125=250 MT. 
-Mestre 2500 MT. 
-Transporte depende da distância onde se encontram os tijolos.
Total: 13.170

Doação pix CPF 301.967.428-03 (Fernando Massaranduba Medeiros)


Quando você vê uma necessidade, no ponto bíblico, você está sendo chamado para ajudar.


Embondeiro, símbolo da África e abundante em Tete.

 Vocês sabiam que enquanto comemos arroz e feijão diariamente, neste povoado só é servido em ocasiões especiais, comem folhas de matos e quiabo que acham no mato, café muitos dos moradores  não  conhecem. 

Aniversário do cantor George Couto

 

O Blog Ibirataia parabeniza hoje (3) o cantor George Couto desejando  muito sucesso, paz, amor, saúde e muitos sonhos realizados.

Os Admistradores do Grupo Ibitataia Wilckson e Denise agradecem a sua presença no grupo e te desejam um feliz aniversário!







quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Depois do sepultamento do marido esposa é encontrada morta

 

No dia (29) o pecuarista Garan Maia Filho, e  seu filho  Francisco Veronezi Maia, conhecido como Kiko foram vítimas de um acidente aéreo.

 O avião bimotor que eles estavam, caiu em uma área de mata de fechada entre  Rondônia e Mato Grosso, os destroços foram encontrados na manhã de domingo (30).


A esposa do pecaurista Ana Paula Pridonik foi encontrada morta horas depois do sepultamento  do marido e do enteado, na tarde de terça- feira (1°), Segundo a Polícia, a jovem teria utilizado uma arma de fogo que estaria registrada no nome de Garan e disparou na cabeça .

  

O Menino Virtual

 Livro O Beija Flor que Não Sabia Voar do escritor Achel Tinoco 

Era uma vez um menino chamado Dudu. Desde a primeira infância, Dudu gostava de brincar com aparelhos eletrônicos: celulares, máquinas fotográficas, televisores etc. Quanto completou seis anos, o pai, o senhor Eduardo X, deu-lhe de presente de aniversário um computador. Ah, que máquina maravilhosa, que espetáculo! Para ele nada se poderia comparar à magia das imagens, os jogos, a tela. 

Dudu estudava numa escola particular e tinha aulas de robótica. Era um aluno interessado, atencioso, comportado. Jamais chegou em casa trazendo no boletim uma observação sobre o seu comportamento ou com uma queixa da professora. Entre os colegas de sala, era festejado como um guri brincalhão, divertido, simpático. Mas,  desde o dia em que ganhou a tal máquina, o menino se desinteressou pela escola, pelos coleguinhas, pelas brincadeiras. Dedicava-se exclusivamente à máquina. Não tinha mais hora para comer, hora para brincar, hora para dormir. Só o que importava eram a tela do computador e os inúmeros jogos que ele baixava. A certa altura, o menino já entendia muito mais de computador do que o pai. 

Aconteceu que, com o tempo, as coisas saíram do controle. A mãe, Dona Esmeraldina Y, não conseguia mais fazê-lo tomar banho, comer, estudar, brincar. Os brinquedos, todos, foram relegados a nenhum plano. Ela pretendia dá-los quando chegasse o Dia das Crianças. Ele pouca importância deu ao fato. Fez um muxoxo distraído e voltou à tela. 

Numa manhã de domingo, comunicou aos pais que não ia mais à escola. E não foi mais. O computador seria seu professor, sua escola, seu recreio, sua vida. Dormia pouco, acordava, corria para o computador. Passou a se alimentar do que o computador lhe desse: megabytes, gigabytes, softwares e outros sistemas inteligentes. 

Mas, como sabemos, o computador é uma invenção das mais fantásticas. Mesmo assim é uma máquina e como tal não pode nos comandar. Nós o criamos e nós temos controle sobre ele. 

Dudu não entendia assim. Dizia simplesmente que aquela máquina era sua melhor amiga, não precisava de mais nada.

Os pais, diante da situação, levaram-no a uma especialista no assunto. Uma psicóloga. A mulher, muito simpática, disse que era um caso a ser estudado. Parecia,  conforme ela tentou explicar, que o menino adicionara à sua personalidade a personalidade do computador. 

Ué, e computador tem personalidade? Alguém aí há de perguntar. Exatamente isso os pais lhe perguntaram. Ela respondeu convicta de que certas pessoas assumem o modo de viver e de se comportar de outras, dada uma convivência muito longa entre os pares, como é o caso de um namorado que tanto gosta da namorada. Com o tempo, ele passa a repetir ou imitar certos gestos, modo de falar, até o jeito de andar da parceira. Nesse caso, disse ela, era como se o menino tivesse absorvido a capacidade que o computador tinha de armazenar informações e de “pensar” rapidamente. Assim ele passou a acreditar que também podia aprender tudo aquilo. E, já que o computador não comia, não dormia e não ia à escola, ele também não precisava ir.

E quanto ao amor dos pais?

Para ele, Dudu, o amor dos pais era incondicional, como era incondicional o seu amor pela máquina. Desse modo os pais estariam sempre ao seu lado, mesmo que fosse apenas para reclamar de sua ausência. Ora, para ele, era uma bobagem, porque, como todos estavam vendo, ele continuava sendo o mesmo Dudu de sempre. 

O que fazer?

Segundo a psicóloga, a doutora Informática, com o tempo, ele iria compreender que havia, sim, uma diferença inegável entre ele e a máquina: o coração. Nele, por mais involuntário que fosse, o coração pulsava, sentia; na máquina, não. Uma vez que faltou energia e ele se viu sozinho, pode entender isso. Um fato. Mas três minutos depois, depois que voltou a luz e a máquina se religou automaticamente, lá estava ele, outra vez, de bate-papo com os amigos virtuais. 

Uma manhã, os pais saíram para trabalhar e o deixaram sozinho por uma boa meia hora, até que a babá chegasse. Aconteceu que a mulher fora acometida por uma virose que infestava a cidade e não foi. O telefone estava sem crédito e por isso não pôde avisar aos patrões. O menino, que já não dormia, não comia, não brincava, não ia à escola, sequer percebeu a sua falta. Estava digitando alguma coisa quando, de repente, ouviu um estrondo dentro da CPU. Oxe, que foi isso? Abaixou-se, olhou em redor, puxou-a para frente de modo que pudesse averiguar atrás se tinha algum problema visível, um fio solto, um curto-circuito. Nada. Tudo parecia normal. Mas observou ainda intrigado que o monitor havia se apagado. Estava tudo escuro. 

Coçou a cabeça. Que houve, afinal?

Uma voz o alertou:

“Dudu!”

Ele se assustou, olhou em volta, levantou-se da cadeira, sentou-se novamente.

“Dudu!”— a voz tornou a chamá-lo. 

Não podia ser, mas era: a voz saía de dentro do computador. Como? Isso ele ainda precisava descobrir.

A voz continuou:

“Dudu, meu amigo, eu sou um pequeno vírus. Tenho a sua idade e me chamo Hackinho”.

— Como assim? — Dudu perguntou. 

“Exatamente o que você está pensando: sou um hacker de mim mesmo”.

— Ainda não entendi.

“Vou lhe explicar: vivo dentro da rede, ou seja, ando por todos os computadores ligados aliciando crianças como você”.

— E quem disse que eu fui “aliciado”?

“Calma, deixe-me explicar: tenho o poder de persuadir crianças como você, que se entregam ao primeiro toque no mouse. Ficam fascinadas e não veem mais nada adiante”.

— Não foi o meu caso — Dudu disse com certa irritação.

“Pensam que, só porque têm o poder de ‘teclar’ com muitas pessoas diferentes, às vezes, que nem existem, são apenas virtuais, podem desobedecer aos pais, deixam de estudar, de brincar, de comer, de dormir. Deixam de viver, o que é muito mais grave. 

Dudu franziu a testa, mas Hackinho não parou:

“Para tudo há espaço na vida: seja para brincar, crescer, ou mesmo para ficar à frente desta máquina. No entanto, não se pode, sob hipótese alguma, deixar de ser criança, de conviver com as outras crianças, de ir à escola e aprender. A escola é o único caminho que temos para construirmos um mundo melhor”.

— Por que você disse ‘construirmos um mundo’, se você é um vírus? — quis saber Dudu, encafifado.

“Eu também já fui você.”

O menino se surpreendeu de novo:

— Não entendi.

“Eu era uma criança como você e como você eu ganhei uma máquina dessas e me debrucei à frente de tal forma, que me incorporei a ela e nunca mais vi os meus pais”.

— Sinto muito.

“Eu tinha uma vida perfeita: corria, brincava, estudava, lia, vivia. De repente, troquei tudo por um mundo virtual. Sei que os meus pais sofreram muito com a minha ausência, a minha desistência da vida real. Quando percebi, já era tarde: estava preso aqui para sempre com a incumbência de assediar, conquistar e trazer para cá crianças assim como você”.

— Então o que o fez mudar de ideia?

“Ao ver o sofrimento dos seus pais, tentando de tudo para salvá-lo, eu compreendi o mal que tinha feito aos meus, por isso resolvi alertá-lo”.

— Não sei o que dizer.

“Não precisa dizer nada. Apenas viva como qualquer criança feliz. Não vai lhe faltar tempo, nem mesmo para se divertir aqui à minha frente. Faça suas tarefas escolares, durma normalmente, estude e, principalmente, dê atenção e a devida importância à família maravilhosa que você tem e que tanto o ama”.

— Mas... 

“Amanhã, quando você voltar aqui, mesmo que eu não esteja pessoalmente, quero saber que você é uma criança alegre, feliz, saudável, como outra qualquer”.

— E você...?

“Eu sou um vírus autodestrutivo.”

— Ainda vai aliciar pessoas?

“Somente aquelas que não têm sonhos.”

— Obrigado.

Dudu foi à cozinha para comer alguma coisa, depois foi tomar um banho e fazer os deveres de casa, que estavam tão acumulados, para esperar os pais, X e Y, chegarem do trabalho. 

 Eles também eram virtuais.

Nota de Falecimento

  O Blog Ibirataia comunica com profundo pesar o falecimento do Sr. Balbino Bispo dos Santos,aos 84 anos,  ocorrido na tarde deste domingo (...