O Menino da Visgueira
A coisa mais estúpida que já fiz na vida — não por maldade, até por inocência —, foi montar visgueiras no meio do pasto para pegar um pássaro chamado caboclinho, ou cabocolino, que vivia em bandos catando sementes de capim. Era lindo — plumagem cor de canela, com cabeça, asas e calda pretas, com aproximadamente 10 centímetros —, tinha um canto harmônico e agradável e ficava manso com facilidade, chegando a cantar na palma da mão. Então eu cortava um galho seco de goiabeira, com uma forquilha na ponta, e forrava tudo com visgo de jaca. Em seguida, cobria com cinza tirada do fogão à lenha lá de casa e enfiava a armadilha no meio do pasto, entre o capinzal. No sol de meio dia, os passarinhos pousavam na visgueira e ficavam presos. Eu corria para pegá-los, com as asinhas grudadas de visgo. Para limpá-las, usava gotas de óleo de cozinha. De cada dez a doze capturados, um sobrevivia, e continuava a cantar. Não, naquela época, entre os 10 e 12 anos, eu não pensava em poesia. Que pena: era um estúpido!
Hoje não os vejo mais no capinzal, por isso escrevo:
O menino corria ao capinzal
Para pegar um cabocolino,
Que estava preso à visgueira
E ainda cantava pro menino.
Asas inutilizadas pelo visgo
Já não voavam, Valdivino,
E eram lambuzadas de óleo
Para se adunarem ao menino.
E o menino o fazia cantar,
Pousado na palma da mão,
O canto do cabocolino.
Que malmente conseguia piar,
Um passarinho sem canção
Para satisfazer ao menino.
Credito: Escritor e Poeta Achel Tinoco#Caboclinhos
#pássaros
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