Zilah Machado cantora e compositora
Em 13 de abril de 1928 nascia na capital gaúcha a filha da adolescente Maria José Machado.
Foi um dia emocionante para a jovem mãe, negra e pobre que sobrevivia lavando roupas. Prometeu a si mesma que a filha Zilah estudaria e não seria lavadeira, mas professora.
Moravam no bairro Ilhota e a mãe não se cansava de repetir: "Tu não precisarás limpar a casa nem lavar a roupa de ninguém; tu vais ensinar!
Tu serás uma professora!"
Com muito sacrifício a mãe a matriculou em uma escola particular.
Era a única menina negra. Sentia-se discriminada.
Não gostava de levar desaforos e... as confusões iam sendo formadas.
Havia algo que dava paz ao coração de Zilah e isso era o ato de cantar!
Cantar retirava do peito as dores da alma. Desde sempre a guria cantou.
Seu vizinho, o maravilhoso Lupicinio Rodrigues, dizia à dona Maria José: "Essa menina vai ser cantora" - pois desde bebê já cantava afinada.
Lupicinio compreendia a necessidade de Zilah cantar e refrescar a dura existência.
Quando frequentava a Quarta Série, sua mãe a retirou da escola e a matriculou em aulas de canto.
Foi aluna de um afamado professor e demonstrou muito talento.
O padrinho musical - Lupicinio - não escondia o orgulho da afilhada.
Aulas de música clássica; todavia, Zilah era do samba.
Era hora de tomar uma decisão!
Ela não era de deixar nada para depois e foi para a Argentina em uma turnê. Após três meses retornou e foi se apresentando em rádios e mais onde a convidavam.
O dinheiro era escasso, muito escasso.
Às vezes pensava: "que negra pretenciosa eu sou, uma filha de lavadeira, empregada doméstica.
Por que não aceito meu destino?!"
Amigos a incentivaram a participar de um concurso na Rádio Gaúcha para substituir Elis Regina.
Desabafou: "não tenho roupas, mal tenho o que comer".
Um amigo lhe deu dinheiro para a compra de vestuário adequado.
A mãe nada falou, mas sentiu que sua cria tinha valor.
Nas ondas do rádio ela fez sucesso, cantando as letras de Lupicinio.
Infelizmente, o sucesso do rádio na sua cidade não lhe proporcionou viver da música. Em 1975 disse para a mãe que iria para o Rio de Janeiro.
Confiaria a ela seus bens mais preciosos: os quatro filhos. Foi o momento mais difícil de sua vida.
No Rio de Janeiro, morava no subúrbio e trabalhava como empregada doméstica.
Nove anos se passaram e ela não queria voltar para Porto Alegre sem ter seu talento reconhecido.
E o sucesso veio! Sua voz chamou a atenção de vários cantores que a convidaram para se apresentar, o que fez, ao lado de Dona Ivone Lara, Emilio Santiago, Vando e outros.
Voltou para sua terra e para sua família com seu primeiro disco gravado.
Pôde viver de sua música e mesmo não sendo professora, pôde dar a sua mãe motivos para se orgulhar.
Faleceu em 2011 e além de cantar foi percussionista e também escreveu mais de 200 canções.
Zilah foi um exemplo de perseverança, de alguém que nunca deixou de acreditar no seu talento e pôde realizar os seus sonhos.
Fonte: Compartilhando Histórias
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