O homem é, antes de tudo, um animal contraditório. Pois então vejamos: ele deve ser o único que destrói para depois construir; polui para depois despoluir, faz guerra para depois buscar a paz. Mas corre para dentro de casa quando a tempestade chega. Não tem paz. E voa tão alto, que chegou ao Sol com asas de cera e contaminou a Natureza. A dele e a dos outros. Escureceu os céus, plastificou os mares, intoxicou as terras. Plantou, mas pouco colheu, ou colheu em demasia, mais do que sua ambição lhe permitia. Os rios respiram com dificuldade, o homem o assiste, sabe que o moribundo precisa de socorro, mas pouco faz. Desiste. Ao invés de recuperá-lo, replantar suas margens, oxigenar suas águas, ele busca outros rios noutras galáxias; ao invés de conviver pacificamente com os mares, navegá-los prazerosamente, ele os entope de lixo até a boca; ao invés de proteger a terra, cultivá-la com sabedoria, ele a capina grosseiramente e a deixa nua. Vai morar na Lua. O homem não se conscientiza de que precisa evoluir-se, reciclar-se, educar-se, mas constrói pontes que, muitas vezes, não ligam uma extremidade à outra, ficam pelo caminho a desenhar desumanidades. Depois de tudo, floreia o mesmo discurso existencial:
“Vamos salvar o Planeta”.
O homem é um tronco sem raiz, sempre à espera que não venha a tempestade.
Crédito:Achel Tinoco poeta e escritor
Foto: Escultura Frans Krajcberg
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