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Série Chapada Diamantina

 Estrada Real

   Morro do Chapéu

 E o 1° Coronel Negro do Brasil


O munícipio de Morro do Chapéu possui muita ligação com o ciclo do ouro e do diamante, como exemplo o distrito de Ventura que até meados do século passado viveu o apogeu da exploração de diamantes e carbonato e exibe casarões com influências coloniais. 

No município existe grande extensão da  Estrada Real (ER), a maior parte desprovida de calçamento. Na proximidade da Fazenda Gurgalha, encontra-se ainda vestígios da ligação entre a capital da Bahia e o interior no tempo das lavras diamantiferas. 

Francisco Dias Coelho, 1° coronel negro do Brasil,  enriqueceu com o carbonato em Morro do Chapéu O historiador Moisés de Oliveira Sampaio,

Doutor em Humanidades e Artes pela Universidade Nacional de Rosário (UNR, Argentina), professor da UNEB, autor do livro " Francisco Dias Coelho: O coronel negro da Chapada Diamantina, fruto da tese de mestrado, revela a fascinante trajetória desse homem de Morro do Chapéu, nascido livre no tempo da escravatura e que tinha tudo para não conseguir êxito. Quando perdeu a mãe, aos 7 anos, Dias Coelho e a irmã foram morar na casa de um grande comerciante. Teve uma infância pobre, filho de agregados da fazenda Gurgalha, era descendente de negros livres pelo lado paterno e de libertos pelo materno. 

No começo do século XIX, Francisco Dias Coelho fez uma carreira política brilhante, tornou-se o homem mais rico do sertão baiano e um dos dez mais ricos da Bahia, como comerciante (atravessador) da negociação de carbonato, sendo maior fornecedor para empresa Levy de Paris. Foi também Tabelião de Notas do Cartório e dono da farmácia Coelho, além de emprestar dinheiro, inclusive para o Conselho Municipal. 

O historiador conta que foi um período em que se descobriram as propriedades industriais do carbonato (chamado também de ferrujão), um diamante de baixa qualidade que servia para fazer ponta de broca para mineração. Usado em larga escala, enriqueceu muita gente. Mas ninguém chegou à fortuna de Dias Coelho. 

Apesar da sua fortuna, o historiador Moisés Sampaio,  a sua trajetória política e pessoal exigiram estratégias de ascensão social e de construção de uma imagem pública para ser um dos mais atuantes coronéis baianos do seu período. A origem pobre, rápida ascensão econômica e social, a dominação política e o esquecimento de um importante membro da sociedade baiana da Primeira República, estas são as linhas mestras deste trabalho (sua tese de mestrado), que visa perceber como um negro conseguiu se imiscuir e dominar, ainda que por um curto período de tempo, uma sociedade que ainda vivia as lembranças da escravidão. 

Rapidamente, Dias Coelho passou a liderar todos os coronéis do sertão, interferindo na política estadual e em todas as ações regionais. Moisés Sampaio conta que ele foi eleito intendente, com voto dos brancos, em 1909, ficando no cargo até 1917. Como só podia votar quem soubesse escrever, em 1912 ele zerou o analfabetismo em todo o município e ganhou o voto dos negros, com uma vantagem imensa sobre os demais. 

O grupo político liderado pelo coronel Dias Coelho teve a denominação, pelos opositores ricos e brancos, de "Coquis", em alusão ao Coqui, um pássaro preto de canto alto e ruidoso. 

O historiador lamenta que a memória do grande diplomata negro, como alguns autores o chamavam, tenha ‘sofrido um apagamento’ após sua morte, em 1919. "Tivemos negros que tiveram possibilidade de mudar as perspectivas sobre a raça e a cor e que fizeram sua batalha sem armas, com mudanças sociais",  comemora Moisés. 

O coronelismo com Dias Coelho foi exercido de forma diferente, o mandonismo, clientelismo e organização clâmica das famílias de proprietários, foram substituídos.

Construiu para si a imagem de bondoso, justo, diplomata e outros adjetivos que não são comuns quando se trata de coronéis do sertão baiano. 


Fonte: Caminhos da Bahia Colonial - Estrada Real: Jacobina/Rio de Contas / O Coronel Negro: o coronelismo e Poder no Norte da Chapada Diamantina(1864 - 1919).Tese de Mestrado de Moisés de Oliveira Sampaio.Uneb 2009.

Fotos: Arquivo CBPM / reprodução site eduneb.br

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