O que pensa e o que sente alguém que sabe que a sua vida está chegando ao fim, apesar de a mente correr fagueira e lúcida? Não tem mais forças para brigar contra o tempo e o tempo já não pode ser contado. Passou. O olhar se perde no canto do quarto e já não tem horizonte, sequer espera por um milagre. A fala é pouca e o coração vagueia como se procurasse entender as engrenagens da vida até aqui. Tem pena de não ver mais o sol nem o mar de sua varanda imaginária. Vive num continuo despedir-se, sem saber se amanhece.
É ainda mais penoso quando se é um jovem, um médico, e descobre um tumor intratável na cabeça. Nem ouve um colega lhe confirmar que só tem poucos meses de vida. Ele sabe e se pergunta, incrédulo, qual pecado terrível teria cometido para merecer tamanha sentença. Não duvida de Deus, apenas o questiona: por quê? Quem vai olhar pelos seus? A mulher que chora, os filhos nem sabem ainda, não poderiam aceitar. Mas o que mais o entristece é ver sua mãe tão à toa das ideias, fazendo promessas impagáveis para todos os santos, acreditando no que o seu coração de mãe quer acreditar: tudo vai dar certo, embora já tenha os olhos de luto.
Eu o vi distante, como se não estivesse mais neste mundo. Por quê? Eu também pergunto. Imagino o seu sofrimento, a sua indignação, o seu desespero. Não tem como se cuidar. É obrigado a partir. Infelizmente. E o mais cruel não é a dor da despedida, mas a previsibilidade de ir. Foi-se.
Eu não quero uma morte anunciada assim. Quero a surpresa de encontrá-la a qualquer momento, longe daqui.
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Credito: Escritor e poeta Achel Tinoco
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