Entrei numa livraria e dois livros discutiam:
Qual o seu título? — Um perguntou ao outro.
"Memórias póstumas dos livros".
Oxente, como assim?
Preparação para o funeral de nós mesmos — disse sem acrescentar um ponto de seguimento. — Não temos mais precisão, resta-nos a página em branco onde nem uma digital cabe.
Eu quero crer que sobreviveremos... — o outro tentou amenizar.
Já somos pergaminho, e nem Gutemberg nos quer ler.
E todas essas letras...? — Referindo-se às obras recentes.
São impressas sem nenhuma criatividade. Apenas um comércio.
Inteligência artificial?
Não, a falta dela.
Você disse que os livros são portas que se abrem para dentro de nós...
Pois é, para fora não tem valia. — E concluiu tristemente: — Fechemos esta página, mas não nos esqueçamos do marcador.
Não precisa, não temos leitor. No máximo, nos folheiam aleatoriamente em busca do último capítulo, para economizar tempo, decerto.
Ou para chegar ao ponto final.
Saí da livraria levando os dois livros.
Matéria: Escritor e poeta Achel Tinoco
P.S.: Homenagem ao meu querido amigo OLEONE FONTES COELHO, que é um grandíssimo escritor.
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