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O Morgado de Garcia D'Avila


Do livro "O conto da ilha de Taparica" do escritor Achel Tinoco.


Dom Tomé de Sousa, homem que se poderia chamar de sisudo, estatura mediana, a barba espessa, 46 anos, ao chegar à praia usava botas, camisa branca de gola rendada sob o gibão, talabarte a tiracolo, espada à cinta, chapéu de abas largas, enfeitado com plumas. Imediatamente atrás dele vinha o criado Garcia D’Ávila, rapaz perspicaz, nos seus 21 anos incompletos, nascido em São Pedro de Rates, sabia escrever, fazer contas, apesar de ter vivido sempre no campo, na quinta dos Sousa, em terras de cortiça e olival, carreando esterco e extraindo a casca do sobreiro. Mas cá chegando, alguém cunhou que era homem de armas, enérgico, autoritário, audacioso. Tomé de Souza então o encarregou de erguer um baluarte para a vigilância da cidade do Salvador. Ele não demorou a formar uma tropa com portugueses e índios mansos e subir pela linha do litoral, a partir de uma légua além do Rio Vermelho. Abriu trilhas, fez caminhos, e dias depois de muito desbravar encontrou oito aldeias de índios à margem do rio Pojuca, com profundidade suficiente para entrar caravelões, no sopé de uma colina chamada de Tatuapara. Melhor ancoradouro não havia. Mas, para ocupar aquela região, Garcia logo percebeu que precisava domar aqueles índios. Fez-se mais essa guerra entre índios e invasores, até que quase todos os índios fossem subjugados, meses depois. Alguns escaparam e sumiram sertão adentro; os que sobreviveram, foram capturados, amarrados, castigados com muito rigor e submetidos à escravidão. Imaginemos esses índios aprendendo a domar um cavalo ou um boi, como eles mesmos não conseguiam ser domados, à força. A história que segue. As aldeias ficaram para trás a arder em chamas. Não se contou os mortos. Era o que menos importava: os mortos. Importava o vencedor. Os mortos ficavam como parte da paisagem, enquanto os corpos ali estivessem expostos, comidos por outros animais ou engolidos pela terra. Garcia fez sua base de operações cerca de uma légua e meia ao norte da foz do rio, num cerro isolado, 50 metros acima do nível do mar, ao lado de um pequeno porto protegido pelos arrecifes, de onde podia avistar as embarcações vindas do norte. E ali, a 14 léguas de Salvador, em taipa e madeira, rebocado com cal de marisco, por dentro e por fora, ergueu o baluarte que o governador lhe encomendara, com a função de casa de residência e atalaia fortificada. Cercou tudo com estacas e chamou de Torre de São Pedro de Rates, nome de uma velha freguesia medieval nas cercanias de Póvoa de Varzim, ao norte de Portugal, onde o pai de Tomé de Souza fora Prior.
Garcia D’Ávila cumpriu fielmente as determinações do governador-geral Tomé de Souza, e pelos serviços prestados recebeu aquela sesmaria conquistada e começou a formar o seu morgado. Começou a sua criação de gado e pôs o burro na sombra, como se diz até hoje, chegando a ser considerado o maior latifundiário do mundo.

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