Neguinho da Beija-Flor se aposenta, e com ele se vai um pedaço da história do samba. Ícone da Beija-Flor, voz inconfundível de tantas vitórias, encerra sua trajetória enquanto sua escola mais uma vez leva o título do Carnaval. Mas, para mim, tudo isso passa despercebido. O brilho das escolas de samba, os desfiles grandiosos e a festa que encanta multidões nunca tiveram espaço na minha vida. E, olhando para o estado do Rio, vejo que essa indiferença faz ainda mais sentido.
Enquanto os holofotes se voltam para a Marquês de Sapucaí, a realidade do Rio continua mergulhada em sombras. Um estado falido, devastado pela corrupção, onde governadores vão para a cadeia, mas nada muda. O povo, que vibra com o espetáculo, enfrenta diariamente o sucateamento dos serviços públicos, hospitais sem estrutura, transporte caótico e uma violência que transforma a cidade em um campo de guerra.
O Carnaval é uma válvula de escape para muitos, um momento de esquecer as dores da realidade. Mas, para mim, não há como ignorar o que está diante dos meus olhos. O brilho das fantasias não esconde o sangue derramado nos becos e vielas. O ritmo contagiante do samba não silencia os tiros que ecoam nos bairros esquecidos pelo poder público.
Neguinho da Beija-Flor sai de cena como uma lenda, e sua escola celebra mais um campeonato. Mas o Rio de Janeiro segue afundado, prisioneiro de um sistema que celebra a festa enquanto a tragédia se desenrola no dia seguinte. Para quem não se deslumbra com o Carnaval, o que resta é a dura constatação de que a realidade do Rio está longe de merecer qualquer comemoração.
Credito: Jornalista: Bruno Duarte
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