Escritor: Achel Tinoco
Mas por que tanta comoção com a morte de um Ipê?
Acho que, quando eu nasci, ele já estava lá — na Tesourinha. Avizinha. E não era Ipê; era Pau d’arco. Sou eu nesta foto sob a copa de suas galhadas. Arruadas. Acostumamos a vê-lo uma vez por ano seco e uma vez por ano florido. Um bom amigo, que sempre nos desejava bom dia, fosse com flores ou com poesia. Tenho-o na contracapa de um livro, tenho-o no canto do coração, até na contramão da história, vivo. Não havia chuva que o desesperasse; não havia vento que o desarrumasse. Pensávamos que era imortal. Maioral. Mas havia muito, tinha uma broca conspiratória que lhe carcomia o pé. Fazíamos cara de paisagem, como se uma árvore não adoecesse e suas raízes podadas não precisassem de cuidados médicos. Céticos. Ele caiu numa tarde de chuva, como cai um velho no banheiro. Vergueiro. Forrou o chão com suas flores amarelas. E para chamar mais nossa atenção, interditou a ponte, engarrafou o trânsito, nos fez parar para observo.
Ainda chovia.
Chorávamos.
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