sábado, 29 de janeiro de 2022

O Ipê Amarelo

Escritor: Achel Tinoco



Mas por que tanta comoção com a morte de um Ipê?

Acho que, quando eu nasci, ele já estava lá — na Tesourinha. Avizinha. E não era Ipê; era Pau d’arco. Sou eu nesta foto sob a copa de suas galhadas. Arruadas. Acostumamos a vê-lo uma vez por ano seco e uma vez por ano florido. Um bom amigo, que sempre nos desejava bom dia, fosse com flores ou com poesia. Tenho-o na contracapa de um livro, tenho-o no canto do coração, até na contramão da história, vivo. Não havia chuva que o desesperasse; não havia vento que o desarrumasse. Pensávamos que era imortal. Maioral. Mas havia muito, tinha uma broca conspiratória que lhe carcomia o pé. Fazíamos cara de paisagem, como se uma árvore não adoecesse e suas raízes podadas não precisassem de cuidados médicos. Céticos. Ele caiu numa tarde de chuva, como cai um velho no banheiro. Vergueiro. Forrou o chão com suas flores amarelas. E para chamar mais nossa atenção, interditou a ponte, engarrafou o trânsito, nos fez parar para observo.

Ainda chovia. 

Chorávamos.

Nenhum comentário:

Surfista Morre Após Ataque de Tubarão na Austrália

  Neste sábado (6) um surfista de 57 anos, morreu  após ataque de tubarão em praia no norte de Sydney, apesar de ter sido resgatado da água,...