Escritor Achel Tinoco
Tantas vezes, passaste por mim, levando pelo colarinho uns amigos, uns parentes, e até uns amores. No rastro que deixava, fazia sempre escuridão:
— Volta cá, ó, senhora, traga-os de volta — gritei-lhe algumas vezes, inúteis acenos, lágrimas na contramão.
“Nem pensar, nem escrever, ó, poeta”, respondia-me sem falar, o olhar sem visão. “Para ti, nunca é tempo de o ser apartado do meio; de se dá prosseguimento à roda das coisas”.
Vai-se o carro de boi rangendo as engrenagens; fica o pássaro pousado na cerca de arame.
— Para onde vais, se não sabes para onde vamos? Qual canto entoarás?
“Vou-me por aí a levar esses espectros de nós. Alguns não sabem cantar”.
— Deixa-me tão somente um vazio, essa distância pedregosa, um não voltar definitivo.
“Se entendes, poeta, o mecanismo do tempo que faz girar a roda, bem sabes: tudo há de renascer amanhã...”
O caminho fechou-se em si mesmo, não a vejo faz tempo, mas sei que ela, a morte, anda a nos rodear. Vai lá, vem cá. Faz o tempo de idas e de vindas. Um dia havemos de reencontrá-la, como uma febre malsã.
Ela pode nos visitar à noite, durante o dia, ou pela manhã. Mas não convém esperá-la. Que nos encontre desprevenido, se for o caso.
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