quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Maria Felipa de Oliveira




"Quem? 

"Nunca ouvimos falar dela. 

"Uma negra marisqueira que se engajara na luta contra os portugueses desde que as notícias do Grito do Ipiranga chegaram à Bahia. Uma personagem que a história ainda não registrara devidamente, mas que ficaria preservada na memória da população insular, e seria conhecida como a “Heroína Negra da Independência”. Segundo relatos, nenhum documental, Maria Felipa viveu na Ponta das Baleias. Era uma negra alta, forte, corpulenta, que vestia saias rodadas, bata, torso e chinelas. Liderava um grupo de aproximadamente quarenta mulheres na defesa das praias de Itaparica — Joana Soaleira, Brígida do Vale, Marcolina, dentre outras — e homens de diferentes classes e etnias. Construiu trincheiras nas praias, organizou o envio de mantimentos para o Recôncavo e as chamadas “vedetas”, feitas dia e noite a fim de prevenir o desembarque de tropas inimigas. Durante as batalhas, várias embarcações lusitanas foram incendiadas por aquelas mulheres, entre elas a canhoneira Dez de fevereiro, na praia de Manguinhos, e a barca Constituição, na Praia do Convento. Armadas de peixeiras e galhos de cansanção, elas surravam os portugueses que ousavam desembarcar na ilha e ateavam fogo aos barcos usando tochas de palha de coco e chumbo. Os soldados não resistiam às queimaduras na pele e partiam desesperados. 

"Na primeira cerimônia de hasteamento da bandeira nacional após a derrota definitiva dos portugueses, no Forte de São Lourenço, em Ponta das Baleias, Felipa teria invadido a armação de pesca de Araújo Mendes, português abastado, para surrar o vigia Guimarães das Uvas. Surpreendeu-o a mijar num canto, agarrou-o pelo saco peludo e esfregou o cansanção nos bagos com tanto engenho que o homem não mais prestou... Ficou roncolho.  

"Pelo menos foi o que nos contaram. 

"As lutas da população itaparicana não haviam terminado. A hostilidade e os conflitos, conhecidos como mata-marotos, entre portugueses e brasileiros, continuariam a existir pelo menos por mais dez anos." 


Do livro "O conto da ilha de Taparica, do escritor Achel Tinoco.

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