(Achel Tinoco)
Estou tão distante, que nem sei mais quais sentimentos fazem parte de mim. Uma folha cai, e deveria ser tão natural, mas nem me apercebo disso. Não sei distinguir a primavera; já é inverno. Quando sinto algo diferente, as lágrimas já foram pelo chão. Faz frio. A realidade foge dos pés, os sonhos são estrangulados pelo pesadelo e o sol custa a nascer. Cadê o verão? Um irmão deixou-se cair no precipício e está demorando a levantar-se: a vida a escorrer-lhe pelos dedos; a esperança por um fio. Um amigo que nos dá força, aquele que se preocupa, a maioria fica no acostamento da estrada a observar um rosário de luz... Os outros perambulam pelo meio da noite cuidando de suas vidas. Já não sei quem são, o que pretendem, o que esperar deles. Talvez me telefonem um dia desses para saber de que lado se porá o sol. O que vejo no horizonte, não passa de uma vermelhidão na pele, que não traduz o tamanho da tempestade. Mas é certo que vai chover e os olhos se enchem de escuridão. Os sentimentos se embaralham. Joga-se uma carta — as mãos estão cheias —, e não posso pegá-la. Cai o pé d’água; o coração se alaga; não me permite respirar. Tenha fé: um passo de cada vez, tão cambaleante; parece que não se tem coordenação motora. Nenhum pensamento combina com tudo aquilo de que precisamos. De que precisamos, afinal? Passo. Que agonia! Não sei como me expressar e não consigo pintar de azul esta folha de papel.
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