O Chapéu do deputado
Antigamente, até para se demonstrar boa educação, quando se adentrava um recinto fechado ou à casa de um amigo, tirava-se o chapéu. E, somente para não esquecer, antigamente todo mundo usava chapéu. Com o tempo e com os volteios da moda, o chapéu caiu em desuso, a não ser aqueles bonés dos adolescentes e um ou outro senhor mais tradicional de vetusta idade que ainda costuma usá-lo. Assim, causou estranheza aos eleitores que um deputado use um chapéu de couro como extensão de seu corpo e dentro dele carregue todas as grandes ideias de seu mandato. "O chapéu faz parte de mim, como o cérebro e a cabeça", disse o nobre deputado. Desse modo, tudo que se encontrar no cérebro e na cabeça dele, encontrar-se-á também dentro do chapéu e por isso mesmo o Congresso parou por um dia inteiro para discuti-lo: o chapéu. Esse candidato foi quase eleito para representar o povo, mas quem o representa é o chapéu e como, sob sua ótica, não há nada mais importante a se discutir no Brasil do que o seu chapéu, porquanto se dá ao luxo de tal obscenidade. Agora o deputado já teve os seus 10 minutos de fama, talvez ele não tenha outra oportunidade de se sobressair tanto, uma vez que a sua grande ideia é justamente usar o chapéu, o único modo de aparecer. E como apareceu! Sim, mas agora se faz preciso manter esse sucesso, então, na próxima semana, aliás, menos de uma semana — porque eles reduziram a semana em menos uma segunda e menos uma sexta —, vão discutir a qualidade do couro do chapéu, e noutra oportunidade, as correias do chapéu, e por ai vai...
Ah, se o chapéu perder a importância, ele vai chegar ao Congresso carregando a sanfona, porque também é sanfoneiro, e então dirá que a sanfona também é uma extensão do seu corpo. Ainda bem que não é pianista!... Ora, meu Deus, um deputado poderia até andar nu, contanto que trabalhasse; que produzisse; que tivesse vergonha na cara e fizesse um pouco pela gente que o elegeu. Mas como, se não tem capacidade nem educação para usar um chapéu! Daqui a pouco, vai propor uma CPI, para se investigar a origem desse chapéu, se o couro usado para confeccioná-lo é de um boi baiano ou de um cabrito gaúcho.
Nem um, nem de outro: acho que é de um jumento mesmo!
Crédito: Achel Tinoco escritor e poeta
Antigamente, até para se demonstrar boa educação, quando se adentrava um recinto fechado ou à casa de um amigo, tirava-se o chapéu. E, somente para não esquecer, antigamente todo mundo usava chapéu. Com o tempo e com os volteios da moda, o chapéu caiu em desuso, a não ser aqueles bonés dos adolescentes e um ou outro senhor mais tradicional de vetusta idade que ainda costuma usá-lo. Assim, causou estranheza aos eleitores que um deputado use um chapéu de couro como extensão de seu corpo e dentro dele carregue todas as grandes ideias de seu mandato. "O chapéu faz parte de mim, como o cérebro e a cabeça", disse o nobre deputado. Desse modo, tudo que se encontrar no cérebro e na cabeça dele, encontrar-se-á também dentro do chapéu e por isso mesmo o Congresso parou por um dia inteiro para discuti-lo: o chapéu. Esse candidato foi quase eleito para representar o povo, mas quem o representa é o chapéu e como, sob sua ótica, não há nada mais importante a se discutir no Brasil do que o seu chapéu, porquanto se dá ao luxo de tal obscenidade. Agora o deputado já teve os seus 10 minutos de fama, talvez ele não tenha outra oportunidade de se sobressair tanto, uma vez que a sua grande ideia é justamente usar o chapéu, o único modo de aparecer. E como apareceu! Sim, mas agora se faz preciso manter esse sucesso, então, na próxima semana, aliás, menos de uma semana — porque eles reduziram a semana em menos uma segunda e menos uma sexta —, vão discutir a qualidade do couro do chapéu, e noutra oportunidade, as correias do chapéu, e por ai vai...
Ah, se o chapéu perder a importância, ele vai chegar ao Congresso carregando a sanfona, porque também é sanfoneiro, e então dirá que a sanfona também é uma extensão do seu corpo. Ainda bem que não é pianista!... Ora, meu Deus, um deputado poderia até andar nu, contanto que trabalhasse; que produzisse; que tivesse vergonha na cara e fizesse um pouco pela gente que o elegeu. Mas como, se não tem capacidade nem educação para usar um chapéu! Daqui a pouco, vai propor uma CPI, para se investigar a origem desse chapéu, se o couro usado para confeccioná-lo é de um boi baiano ou de um cabrito gaúcho.
Nem um, nem de outro: acho que é de um jumento mesmo!
Crédito: Achel Tinoco escritor e poeta
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