Quando Michelangelo terminou de pintar o céu,
Dois anjos com cara de mel
O interpelaram oficialmente:
— Mestre, por que deixaste nas bordas manchas escuras?
São nuvens cheias de diabruras, ele explicou,
Que vêm com as tempestades chorar.
— Mas, por que não pintaste tudo de azul?
Porque a vida é um mar aberto,
Que, como as ondas, está longe e está perto,
Nos enchendo de ilusão.
É uma longínqua estrada de pedra
Que se atravessa na madrugada
Quando a temperatura é mais amena
E podemos nos doar aos mecenas.
— Mas disseste sobre a Capela Sistina:
“A perfeição não é uma coisa pequena, mas é feita de pequenas coisas”.
Bem como o céu não é um quadro pintado de azul,
Mas tem a perfeição que os nossos olhos imaginam que tem,
Como a beleza estética de uma mulher
Que muda com o passar do tempo de acordo com quem a vê,
No entanto, nunca sabemos exatamente como ela é.
Os anjos entreolharam-se como quem perde o ritmo
E não entendessem a criação dos afrescos.
Michelangelo então concluiu humildemente:
Se olhares com atenção uma noite estrelada,
Vereis que deixo claro a separação da luz e das trevas,
Bem como a criação do sol e dos planetas...
Os anjos pareciam bestificados.
Afinal de contas, completou o artista,
Tudo não passará de um dilúvio universal,
Enquanto se puder avistar o céu.
Matéria: Escritor e Poeta Achel Tinoco
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Site: Ibirataia/Denise Machado
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