Olho para trás e não me vejo. Não estou onde a página começaria a se escrever. Estou cá aonde cheguei por acaso, sem ter seguido o traçado que me pontuou cada parágrafo da vida. Descuidei-me da minha narrativa e não pavimentei aquela estrada que me serviria de destino, sequer abri uma picada itinerante no meio da mata. Fiquei pelo caminho, como um rio que seca antes de chegar ao mar, embora saiba que esteja tão perto por causa do barulho das ondas que escuta. Nada tenho que não seja o que escrevi de mim mesmo, e tudo o que deixei de ter exatamente porque me acomodei tentando abarcar o mesmo sonho todas as noites. O coração insistia para que eu continuasse mesmo não me asseverando um horizonte ensolarado. E teimoso que sou, pensei que venceria pela insistência, até que a distância fez-me assentar na beira do nada, tão cansado de caminhar para canto nenhum.
Fosse pouco, precisei 'desescrever' de meus pensamentos o teu olhar incompreensível para nunca mais ter de olhar para trás, para nunca mais cobrar-te tanta saudade que sinto.
#poesiabrasileira
Matéria: Escritor e poeta Achel Tinoco
Comentários
Postar um comentário