Continuação:
...Presente ao almoço estava um advogado amigo. Ele me disse que um cliente seu precisava escrever um texto sobre o pai para ser entregue ao governador da Bahia. Dispus-me a escrever, evidentemente. O homem telefonou-me no dia seguinte para explicar-me como seria o texto. Não reconhecendo a voz nem o número do celular dele, pensei que era o meu amigo advogado. Como tinha muita intimidade com ele:
“Fala, viado velho!”, fui logo dizendo entre risos.
O homem não alterou a voz, continuou a me chamar de senhor:
“Eu gostaria que o senhor escrevesse um texto sobre o meu pai...”
O fora já estava consagrado e eu morto de vergonha, pedi mil desculpas, expliquei-lhe a brincadeira. Tudo bem. No dia seguinte pela manhã, fui a casa dele entregar-lhe quatro páginas impressas com o que eu tinha pesquisado e escrito. O homem ficou empolgadíssimo com o que lera, parecia eufórico:
“O senhor sabe onde tem o nariz”, ele disse agradecido.
A sua filha chegou à sala para me cumprimentar e dizer que gostaria de escrever um livro sobre a sua vida. Era uma mulher de 30 anos, de formas arredondas e robustas. Pus-me à disposição para fazer o trabalho, claro. No dia seguinte, no final da tarde, o pai dela me telefonou novamente, desta vez com a voz alterada por muitas dozes de uísque, quase incompreensível, para me pedir um favor muito secreto:
“Será que o senhor poderia me conseguir o sêmen de Brad Pitt?”, ele disse.
Levei o maior susto:
“O quê?”, pensei mesmo que ele estivesse pilheriando.
Não, estava de porre:
“A minha filha é muito bonita, como o senhor viu ontem, mas não parece disposta a me dar um neto. O senhor entende?”
Não, eu não estava entendendo nada. Como eu iria aos Estados Unidos colher o sêmen de Brad Pitt? Eu viajaria a Hollywood e entre uma cena e outra o interpelaria:
“Senhor Pitt, viajei do Brasil até aqui para colher uns mililitros do seu sêmen. Por favor, vá até o banheiro, bata uma bronha e me traga dentro de uma ampulheta, se possível. Ah, ia esquecendo: quanto isso vai me custar em dólar?”.
"Se fuck you", decerto o senhor Pitt me diria.
Logo percebi que ele, o homem ao telefone, não estava no seu estado normal:
“Acho que esse trabalho pode ser muito caro”, eu disse a ele trocando.
“O senhor acha?”
“Aquele ator deve cobrar uma fortuna para doar tal produto”.
“E aqui no Brasil, o senhor me indicaria alguém?”, e acrescentou: “Mas tem que ser um homem tão bonito quanto o americano”.
Só se fosse eu mesmo, pensei sorrindo.
Por fim, devido ao custo da operação, o homem desistiu da ideia.
Vamos ao próximo livro. Se eu pensasse em alguma coisa ou me lembrasse de outras para por no texto e não escrevesse logo, esqueceria para sempre, por isso andava com os bolsos cheios de papel... Às vezes, eu escrevia compulsivamente, mas como ninguém vê quando o escritor está criando, é taxado de preguiçoso, ou vagabundo, mas para esses eu digo: ao ignorante, da enxada basta o cabo. Se estou assim tão chateado, melhor voltar para casa...
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