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O Construtor de Livros

Continuação:

"Fui a São Paulo, a convite do senhor Klaus Peters, de quem estava escrevendo a biografia. Portanto, precisava investigar, entrevistar, entender a história do homem da Praia do Forte. Fiquei lá por quinze dias. Aproveitei para conhecer a minha editora, a Novo Século, e, quem sabe, acertar o lançamento de outro livro. Numa manhã, resolvi ir à redação da revista Veja, tentar uma divulgação para o meu "Vilarejo dos anjos". Esperei um tempão para entrar no prédio. O editor me mostrou uma pilha de livros que tinha que examinar, mas que eu deixasse o meu. Até hoje nenhuma nota foi publicada. Deve ter sido publicada no cesto do lixo. No dia seguinte, quando descia o elevador do hotel Hotel Blue Tree, na Avenida Faria Lima, onde estava hospedado, para tomar o café da manhã, reconheci um homem dentro do elevador. Olhei-o mais uma vez para ter certeza:

“Affonso Romano de Sant'Anana?”

“Eu mesmo, como vai?”

Aí, descarrilei a falar. Ele riu e me convidou para tomar o café na mesa dele. Conversamos o suficiente para eu presenteá-lo com o meu "Vilarejo dos anjos". Ele não me deu nenhum, mas indicou-me um seu, "A sedução da palavra", em que dava uma série de dicas ao novo autor. Telefonei no mesmo instante para uma livraria e o encomendei, um motoboy o traria daqui a pouco. Terminamos o café e ele me garantiu que logo que lesse o livro me enviaria um e-mail sobre suas impressões sobre o romance. À noite, verifiquei o meu e-mail e lá estava um e-mail de Affonso Romano. Ele me dizia que no avião, indo para Belo Horizonte, havia começado a ler o meu livro:

 “Depois de nosso simpático encontro, não poderia deixar de lhe dar uma palavra. Como você quer fazer carreira literária e está investindo sua vida nisto, talvez lhe fosse útil se um  escritor mais surrado e experimentado lhe dissesse umas duas ou três coisas: mas jure que não vai se chatear. Como você havia me adiantado, gosta de contar estórias, sobretudo do interior, coisas que viu, vivenciou. Tudo bem.  Mas o texto tem que ser mais trabalhado. Causa prejuízo à leitura mais exigente a quantidade de lugares comuns que usa. Lugar comum é mortal. Leitor médio não nota, pode até gostar, mas não passa pela critica literária, pelos mais exigentes. Limpe o texto desses recursos, pois o que eles provocam é a sensação do "já visto", "já falado", e assim a estória fica comprometida. Literatura não é só o enredo, é linguagem, você sabe disto. Mande ver. Desejo-lhe êxito nessa carreira que é longa e difícil.” 

 Dei outra olhada no primeiro capítulo do Vilarejo e escrevi para ele de volta: 

 “Você tem toda razão. Vou procurar me corrigir. Obrigado pelas dicas que me serão sempre úteis”.

 Respondeu-me dizendo que nunca havia feito uma critica a algum autor sem que este ficasse magoado. Tinha falado de mim na palestra a jovens escritores em Belo Horizonte. Ora, como eu iria discordar de um mestre? Fiquei contente com a atenção dele para comigo e até hoje nos falamos por e-mail. Sempre que estou escrevendo, lembro-me de suas anotações. O texto precisa de mais uma olhadela, sempre, precisa ser revisto, precisa estar livre dos lugares comuns. Aprendi. 

 Ao meio-dia, do mesmo dia, encontrei-me com o cantor Lobão, no saguão do hotel. Conversamos por meia hora sobre música e, principalmente, ele fez criticas severas a Bahia e ao senador Antônio Carlos Magalhães. Coisas de Lobão. Mas foi simpático e brincalhão. 

 Hora de voltar para casa, em Salvador. Hora de retomar a escrita."

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