A Máscara do Vento
(Achel Tinoco)
Lembram-se do filme "O menino da bolha de plástico", (1976)? Ele tinha problemas imunológicos e era obrigado a viver dentro de uma bolha de plástico, construída pela Nasa, para protegê-lo de infecções. Mas aí, na adolescência, o rapaz se apaixonou por uma vizinha e sentiu enorme vontade de viver em liberdade. Por amor, naquela manhã brumosa, ele saiu da bolha e meteu a cara no vento, mesmo correndo o risco de ser infectado.
Estamos chegando a esse ponto. Não podemos mais viver teleguiados por especialistas de internet, sendo levados pela maré baixa de uma imprensa partidária e vazia. E se dependermos dos políticos que temos, malmente voltaremos a namorar... Seremos fantasmas insones assombrando a nós mesmos. Afora aquele que morrerá de ataque cardíaco, e aquele outro que pulará pela janela, e mais um que vai enxugar as lágrimas continuas da depressão.
Eu não. Não vou ficar em casa acorrentado à expectativa do próximo espirro, ao medo da febre que ainda nem começou a arder, à dor de cabeça de não poder lhe abraçar. Vou, numa manhã de humores duvidosos e vacinas tomadas, acordar o sol e desligar a TV; em seguida, vou sair de casa, jogar a máscara na lata de lixo e correr com a cara pro vento, ainda que tenha de enfrentar a natureza humana de nariz torcido e a insustentável hipocrisia de toda gente fantasiada de empatia, além daquela a me espreitar na esquina para contar mais tarde, no jornal nacional, que infringi as regras socialistas do distanciamento. Pois que me delatem, que até me excomunguem, só não apertem a minha mente. Ah, sim: que se importem com suas vidas, que se tranquem nos seus casulos, que se intubem com uma banana da terra, mas me deixem em paz exercer a minha liberdade.
A liberdade não é um pássaro que voa, mas um homem que caminha. E caminha porque tem direito de ir e de vir.
Quem eu sou? Sou Tod Lubitch, ora tá!
E se eu morrer? Não, 'não me enterrem na Lapinha', por favor. Mandem-me para Ibirataia, para que eu seja lá homenageado e "despedido" de todos.
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