Havia no olhar um assentamento de medo, posto à beira do precipício. Fazia pranto, derrocada, tristeza. Estava lá no fundo d'alma o que tanto nos causava dor: as perdas. De um dia para o outro, perdemos o abraço, o encontro, o festejo. Éramos tão somente a casa. Envelhecemos dentro dela. Mais do que isso: perdemos os motivos, não fossem os de sobreviver a quaisquer custo, por sobre paus e pedras. Um rio de solidão que passa, que fica, que mora dentro de nós. A tempestade perfeita. Esvazia as águas de seu leito, chove, não faz sol. Estagnou-se como o pensamento que deixou de fluir. Estamos rotos, afinal. Os amigos mascarados, não os reconhecemos mais; os filhos se foram e não nos foi permitido enterrá-los no fundo do poço, os amores pichados de lágrima nas paredes sujas da visão, o olhar perdido eternamente no espaço da depressão. Sim, eis os nossos medos expostos, inelutáveis, inaudíveis, a nos atacar dia e noite, pelas costas das mãos, dos vasos sem flores, do teto sem estrelas.