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O Conto da Ilha de Taparica



Maria Bibiana do Espírito Santo, a Mãe Senhora, foi a Yialorixá do mais famoso candomblé da Bahia: o do Axê-Opô-Afonjá. Fundou, na Ponta da Areia, no alto da Bela Vista, em Itaparica, a Ilê de Aboulá, frequentada, nas festas, pelas figuras mais importantes do seu Terreiro.
Apesar da Ordenação de 1726, que vedava o exercício dos cargos municipais aos mulatos e aos brancos casados com mulheres de cor, foi grande a influência dos mestiços na vida brasileira. Sim, mulatos não faltaram na ilha, pernósticos e faladores. E nenhum excedeu ao João Lima, bastardo de Manoel de Lima da Rocha Pitta e Argôlo, o Aleluia, senhor das terras de Pirapitingas. Descendente da antiga nobreza do recôncavo, tão metido a fidalgo, tinha este João baixelas e ânforas incrustadas de ouro para o serviço de sua mesa, talheres de cabos de marfim, porcelanas e cristais, bandejas de prata, salvas, e o mobiliário todo de jacarandá, um primor de talha. Ninguém em toda a ilha o excedia na riqueza e galantaria. Vivia como um príncipe e falava cerrado como se um português fosse. Não podia ver uma mulata, daquelas que tinha no corpo pimenta, restilo e fogo, que logo se rodilhava todo qual um pavão. Nas tardes de verão, costumava tomar chá de rosas com as suas favoritas, no pátio do castelo, ou melhor, na casa grande de Pirapitingas, pertencente ao seu pai, à beira do rio São Simão. Sua escravatura dele era uma das mais numerosas da ilha. Era solteiro, mas dado a conquistas amorosas, e não dispensava um cravo branco à lapela, nem as mulheres. Se, de longe, avistava a Honorata de Aratuba, a Satu de Pirapitingas ou a Santa do Baiacu, pronto, o homem parecia bailar sobre os pés... Eram mulheres que não se negavam aos olhares dos seus adoradores.
As mulatas eram excessivamente vaidosas, bem como o eram suas antecessoras, tanto que certas negras dos tempos coloniais viviam entregues ao luxo e à depravação, e exerciam grande influência sobre os brancos, por isso mesmo, D. João de Alencastro, o que construíra o farol da fortaleza de Santo Antônio da Barra, na Bahia, ainda em 1695, representou ao governo da Metrópole contra elas, as negras, que “se vestiam de sêda provocando desonestidades e distrações de muitos eclesiásticos”. Para coibir toda essa ‘ostentação’, foi publicada, um ano depois, a Carta Régia, declarando que “sendo presente o demasiado luxo das escravas do Brasil, e devendo evitar-se esse excesso e o mau exemplo que dele podia seguir-se, El-Rei era servido resolver que as escravas de todo o Brasil, em nenhuma capitania, pudessem usar vestidos de sêda, de cambraia ou holandas, com rendas ou sem elas, nem também de guarnição de ouro ou prata nos vestidos”.
 Evidentemente, algumas delas não se intimidaram com as novas regras, aquelas negras do partido alto, que de alguma forma e feitiço conseguiam dominar os brancos, e iam à missa em cadeira de arruar, ostentando a beca de sêda, rosário de ouro, pulseira de copos e balangandãs: Martinha do Ouro, por exemplo, caseira do Marechal Accioli, não faltava às festas de Vera Cruz, da Penha e da Conceição. Era levada pelos escravos do marechal num palanquim, com cortinas de damasco e assento estofado com penas de arapará. A negra vivia instalada no solar da Boa Vista, fazendo ostentação dos seus cabedais. Soubemos que até nas decisões da justiça, a negra Martinha influía. Outras, de igual prestígio e influência foram Mãe Folô, em Vera Cruz, e Tia Constança, na Banda da Praia.

Novo livro do escritor Achel Tinoco, lançamento em breve.

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