Por Arthur Dazzani
Não preciso me alongar sobre o tratamento dado às pessoas que faziam serviços de limpeza, copa e cozinha em residências nas casas da classe média brasileira nos anos 70, 80 e 90.
Nos anos 70 era um trabalho semi-escravo. As madames e donas de casa pediam para os parentes do interior arrumarem uma menina adolescente, que fosse "limpinha" e comesse pouco. Normalmente os parentes iam nas casas das mães pobres da zona rural e pediam alguma menina para "criar" e trabalhar na capital. As mães tinham 9, 10, 11 filhos, e terminavam "dando" uma delas para trabalhar na casa das madames. O argumento usado era que seria uma boca a menos para alimentar e elas seriam muito bem tratadas, já que as famílias tinham procedência. As mães permitiam e as adolescentes partiam para o trabalho semi-escravo, com folgas raras e trabalho das 06h às 22h. Salário, quando tinha, era uma ajuda de custo para o dia da folga, e muitas ainda serviam de depósito de sêmen para os filhotes adolescentes, num estupro cedido na pressão. Muitos moleques perdiam suas virgindades com as chamadas "graxeiras". Alguns papais também gostavam do assédio.
Nos anos 80 isso se seguiu, agora menos intenso, mas as "graxeiras" continuaram a trabalhar de domingo a domingo, 16 horas por dia, ainda satisfazendo a libido da garotada, mas o fluxo migratório do interior para a capital diminuiu.
As casas de festas onde as "graxeiras" se divertiam era motivo de chacota e piada entre a classe média, mas era uma das poucas opções que elas tinham, além da praia em locais periféricos. Elevador social apenas os moradores podiam usar. Elas subiam pelo de serviço. Cada uma fazia um acerto de remuneração diferente.
A partir dos anos 90 elas passaram a ter direitos trabalhistas iguais à qualquer pessoa que presta um serviço. Arrumar alguém que morasse no quartinho de empregadas passou a ser mais difícil, já que muitas tinham suas vidas e família. Isso causou uma grande frustração na classe média, que passou a ter que assinar a carteira de trabalho e pagar os encargos e transportes, onerando o orçamento familiar. Grande frustração, já que a classe média estava se lixando para a vida das suas empregadas. Queriam ganhar mais, mas pagar pouco. Divisão de classes. Empregadas que antes duravam décadas na casa da patroa passaram a escolher onde trabalhar. Um pecado de lesa pátria para quem antes podia separar, trepar, determinar, escolher o tipo de comida diferente pra elas e ficarem putas da vida com essa nova ascensão social.
De uns anos pra cá passou-se a contratar diaristas, que não tinham direitos garantidos pelas antigas e saudosas leis trabalhistas. Uma certa igualdade de direitos foi adquirida, mas muitas ainda são tratadas de forma preconceituosa e discriminatória, comendo em pratos separados e uma comida de qualidade inferior.
Eu mudei junto com o tempo. Desde muito tempo as pessoas contratadas para trabalhar na minha casa ganham mensalmente mais que muitos analistas de empresas grandes, já que o exército industrial de reserva aumentou, mas a necessidade de alguém para cuidar das coisas da casa se manteve. Quem trabalha na minha casa hoje é Elisangela De Jesus Dos Santos, minha amiga da vida e do facebook. Ela não só tem tempo para fazer as coisas dela, como almoça na mesa junto com todos, como deve ser. E não utiliza banheiro de serviço. Usa o social para o que desejar fazer. Nossos papos são ótimos e eu e minha companheira costumamos ser mais justos que a média, garantindo um dinheirinho extra em dezembro para que ela possa sobreviver dignamente. Ela, paralelamente faz curso de técnica de enfermagem, mas me disse que não deixará de fazer serviços para residências, pois às vezes ganha mais.
Elis não foi à Disney, como Paulo Guedes citou, e espero que nunca queira ir, para não se misturar com gente sem os mesmos valores que os dela e não presenciar o nojo ao vivo e à cores, com gente de merda muito inferior à ela e que quer que ela se foda. Ela não merece tão más companhias. Elis mora em São Caetano, onde já estive e tomei um cafezinho passado na hora, num canto que é dela. Elis não é "graxeira" nem se presta a serviços sexuais de quem a contrata. Elis é guerreira e lutadora como milhões de brasileiras, igual a mim e à qualquer um de nós, criando sua filha sozinha e tendo que se virar nos trinta. Eu muitas vezes tenho vergonha de Elis, pois nunca passei nem 10% dos perrengues que ela já passou. E continua a lutar. Eu me dou ao luxo de me abater, mas ela não se dá. Ela me ensina a dureza da vida e é uma pessoa tão digna quanto o presidente de uma grande corporação. Eles, aliás, não merecem os serviços de Elis. E ela não iria se dobrar aos patrões filhos da puta.
Que as antigas "graxeiras" jamais queiram ir à Disney, muito menos Elis, minha prestadora de serviço, pois ela não é PATETA como o Guedes.
Essa semana tô ma área, Elis. Não esqueça do meu menorzinho. Já tô bom.
Autor do texto Arthur Dazzani, produtor cultural, executivo de vendas, distribuidor e importador.
Não preciso me alongar sobre o tratamento dado às pessoas que faziam serviços de limpeza, copa e cozinha em residências nas casas da classe média brasileira nos anos 70, 80 e 90.
Nos anos 70 era um trabalho semi-escravo. As madames e donas de casa pediam para os parentes do interior arrumarem uma menina adolescente, que fosse "limpinha" e comesse pouco. Normalmente os parentes iam nas casas das mães pobres da zona rural e pediam alguma menina para "criar" e trabalhar na capital. As mães tinham 9, 10, 11 filhos, e terminavam "dando" uma delas para trabalhar na casa das madames. O argumento usado era que seria uma boca a menos para alimentar e elas seriam muito bem tratadas, já que as famílias tinham procedência. As mães permitiam e as adolescentes partiam para o trabalho semi-escravo, com folgas raras e trabalho das 06h às 22h. Salário, quando tinha, era uma ajuda de custo para o dia da folga, e muitas ainda serviam de depósito de sêmen para os filhotes adolescentes, num estupro cedido na pressão. Muitos moleques perdiam suas virgindades com as chamadas "graxeiras". Alguns papais também gostavam do assédio.
Nos anos 80 isso se seguiu, agora menos intenso, mas as "graxeiras" continuaram a trabalhar de domingo a domingo, 16 horas por dia, ainda satisfazendo a libido da garotada, mas o fluxo migratório do interior para a capital diminuiu.
As casas de festas onde as "graxeiras" se divertiam era motivo de chacota e piada entre a classe média, mas era uma das poucas opções que elas tinham, além da praia em locais periféricos. Elevador social apenas os moradores podiam usar. Elas subiam pelo de serviço. Cada uma fazia um acerto de remuneração diferente.
A partir dos anos 90 elas passaram a ter direitos trabalhistas iguais à qualquer pessoa que presta um serviço. Arrumar alguém que morasse no quartinho de empregadas passou a ser mais difícil, já que muitas tinham suas vidas e família. Isso causou uma grande frustração na classe média, que passou a ter que assinar a carteira de trabalho e pagar os encargos e transportes, onerando o orçamento familiar. Grande frustração, já que a classe média estava se lixando para a vida das suas empregadas. Queriam ganhar mais, mas pagar pouco. Divisão de classes. Empregadas que antes duravam décadas na casa da patroa passaram a escolher onde trabalhar. Um pecado de lesa pátria para quem antes podia separar, trepar, determinar, escolher o tipo de comida diferente pra elas e ficarem putas da vida com essa nova ascensão social.
De uns anos pra cá passou-se a contratar diaristas, que não tinham direitos garantidos pelas antigas e saudosas leis trabalhistas. Uma certa igualdade de direitos foi adquirida, mas muitas ainda são tratadas de forma preconceituosa e discriminatória, comendo em pratos separados e uma comida de qualidade inferior.
Eu mudei junto com o tempo. Desde muito tempo as pessoas contratadas para trabalhar na minha casa ganham mensalmente mais que muitos analistas de empresas grandes, já que o exército industrial de reserva aumentou, mas a necessidade de alguém para cuidar das coisas da casa se manteve. Quem trabalha na minha casa hoje é Elisangela De Jesus Dos Santos, minha amiga da vida e do facebook. Ela não só tem tempo para fazer as coisas dela, como almoça na mesa junto com todos, como deve ser. E não utiliza banheiro de serviço. Usa o social para o que desejar fazer. Nossos papos são ótimos e eu e minha companheira costumamos ser mais justos que a média, garantindo um dinheirinho extra em dezembro para que ela possa sobreviver dignamente. Ela, paralelamente faz curso de técnica de enfermagem, mas me disse que não deixará de fazer serviços para residências, pois às vezes ganha mais.
Elis não foi à Disney, como Paulo Guedes citou, e espero que nunca queira ir, para não se misturar com gente sem os mesmos valores que os dela e não presenciar o nojo ao vivo e à cores, com gente de merda muito inferior à ela e que quer que ela se foda. Ela não merece tão más companhias. Elis mora em São Caetano, onde já estive e tomei um cafezinho passado na hora, num canto que é dela. Elis não é "graxeira" nem se presta a serviços sexuais de quem a contrata. Elis é guerreira e lutadora como milhões de brasileiras, igual a mim e à qualquer um de nós, criando sua filha sozinha e tendo que se virar nos trinta. Eu muitas vezes tenho vergonha de Elis, pois nunca passei nem 10% dos perrengues que ela já passou. E continua a lutar. Eu me dou ao luxo de me abater, mas ela não se dá. Ela me ensina a dureza da vida e é uma pessoa tão digna quanto o presidente de uma grande corporação. Eles, aliás, não merecem os serviços de Elis. E ela não iria se dobrar aos patrões filhos da puta.
Que as antigas "graxeiras" jamais queiram ir à Disney, muito menos Elis, minha prestadora de serviço, pois ela não é PATETA como o Guedes.
Essa semana tô ma área, Elis. Não esqueça do meu menorzinho. Já tô bom.
Autor do texto Arthur Dazzani, produtor cultural, executivo de vendas, distribuidor e importador.
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