Ontem à noite, Arlinda morreu, aos 78 anos. De quê? Tudo indica que foi de AVC. Mas quem foi Arlinda? Arlinda? Deixa-me ver se consigo explicar: Arlinda foi alguém que eu conhecia desde o dia em que nasci. Nem me lembro mais qual aparência tinha naquele dia tão distante, só sei que era Arlinda. Arlinda Véia como a chamávamos carinhosamente. Morava ao lado. Estava sempre ao lado de minha mãe, nesses últimos 50, 60 anos, e com ela podia contar, conversar, gritar da janela para que lhe trouxesse um molho de coentro, duas pitadas de sal que lhe faltassem. Arlinda, a única vizinha num raio de dois quilômetros, uma amiga tão simples e fiel que deve ter sentido não avisar à patroa de sua partida com antecedência. Morreu na casa dela ao lado, como para não sair de sua companhia. Não sei se tenho alguma fotografia com ela. E isso importa? Esteve sempre tão por perto, que está gravada em todas as nossas memórias fotográficas. Arlinda.
Quem foi Arlinda? Ah, foi simplesmente Arlinda.
Crédito: Achel Tinoco escritor e poeta.
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