A Internet é a maior invenção deste e de quase todos os séculos, mas também o próprio demônio. Pôs-nos juntos numa mesma pequena aldeia, tirou as comadres das janelas e as colocou frente a frente, tomando o devido cuidado para que não pudessem se ver umas as outras, o que lhes deu o direito de falar e opinar e denegrir e mentir. É verdade que deu voz também aos sábios, mas, principalmente, aos imbecis, aos desonestos, aos pilantras, aos traficantes, aos assassinos, aos “especialistas” e aos ignorantes.
Sabe-se de tudo, fala-se de tudo, mente-se de tudo sem nunca chegar a um lugar que possa nos unir. Tão perto e tão distante. O mundo cabe nessa casca de noz internética, no entanto parece que nos desfez do coração. Se os dedos correrem pelos teclados, nem sempre acompanham os nossos pensamentos, ou talvez os nossos pensamentos estejam muito atrasados para acompanhá-los. Soltam-se o verbo, a verborragia, e, sobretudo, a diarreia oral. Quanta meleira! Fica o dito pelo não dito. Mas a ofensa já desfez os laços, inutilizou os tempos, paralisou os sentimentos. Está bem, podemos nos deletar ou, simplesmente, deletar um ao outro, em nome da boa vizinhança, da camaradagem e da cordialidade, para depois descobrirmos, boquiabertos, que tudo não passava de Fake News. Mas aí o fogo já se alastrara pela cobertura de palha da aldeia.
Apaga-se a luz da tela, e voltamos a dormir em paz, embalados por esse fantástico demônio.
Crédito: Achel Tinoco escritor e poeta.
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