quarta-feira, 2 de agosto de 2023

O Menino Virtual

 Livro O Beija Flor que Não Sabia Voar do escritor Achel Tinoco 

Era uma vez um menino chamado Dudu. Desde a primeira infância, Dudu gostava de brincar com aparelhos eletrônicos: celulares, máquinas fotográficas, televisores etc. Quanto completou seis anos, o pai, o senhor Eduardo X, deu-lhe de presente de aniversário um computador. Ah, que máquina maravilhosa, que espetáculo! Para ele nada se poderia comparar à magia das imagens, os jogos, a tela. 

Dudu estudava numa escola particular e tinha aulas de robótica. Era um aluno interessado, atencioso, comportado. Jamais chegou em casa trazendo no boletim uma observação sobre o seu comportamento ou com uma queixa da professora. Entre os colegas de sala, era festejado como um guri brincalhão, divertido, simpático. Mas,  desde o dia em que ganhou a tal máquina, o menino se desinteressou pela escola, pelos coleguinhas, pelas brincadeiras. Dedicava-se exclusivamente à máquina. Não tinha mais hora para comer, hora para brincar, hora para dormir. Só o que importava eram a tela do computador e os inúmeros jogos que ele baixava. A certa altura, o menino já entendia muito mais de computador do que o pai. 

Aconteceu que, com o tempo, as coisas saíram do controle. A mãe, Dona Esmeraldina Y, não conseguia mais fazê-lo tomar banho, comer, estudar, brincar. Os brinquedos, todos, foram relegados a nenhum plano. Ela pretendia dá-los quando chegasse o Dia das Crianças. Ele pouca importância deu ao fato. Fez um muxoxo distraído e voltou à tela. 

Numa manhã de domingo, comunicou aos pais que não ia mais à escola. E não foi mais. O computador seria seu professor, sua escola, seu recreio, sua vida. Dormia pouco, acordava, corria para o computador. Passou a se alimentar do que o computador lhe desse: megabytes, gigabytes, softwares e outros sistemas inteligentes. 

Mas, como sabemos, o computador é uma invenção das mais fantásticas. Mesmo assim é uma máquina e como tal não pode nos comandar. Nós o criamos e nós temos controle sobre ele. 

Dudu não entendia assim. Dizia simplesmente que aquela máquina era sua melhor amiga, não precisava de mais nada.

Os pais, diante da situação, levaram-no a uma especialista no assunto. Uma psicóloga. A mulher, muito simpática, disse que era um caso a ser estudado. Parecia,  conforme ela tentou explicar, que o menino adicionara à sua personalidade a personalidade do computador. 

Ué, e computador tem personalidade? Alguém aí há de perguntar. Exatamente isso os pais lhe perguntaram. Ela respondeu convicta de que certas pessoas assumem o modo de viver e de se comportar de outras, dada uma convivência muito longa entre os pares, como é o caso de um namorado que tanto gosta da namorada. Com o tempo, ele passa a repetir ou imitar certos gestos, modo de falar, até o jeito de andar da parceira. Nesse caso, disse ela, era como se o menino tivesse absorvido a capacidade que o computador tinha de armazenar informações e de “pensar” rapidamente. Assim ele passou a acreditar que também podia aprender tudo aquilo. E, já que o computador não comia, não dormia e não ia à escola, ele também não precisava ir.

E quanto ao amor dos pais?

Para ele, Dudu, o amor dos pais era incondicional, como era incondicional o seu amor pela máquina. Desse modo os pais estariam sempre ao seu lado, mesmo que fosse apenas para reclamar de sua ausência. Ora, para ele, era uma bobagem, porque, como todos estavam vendo, ele continuava sendo o mesmo Dudu de sempre. 

O que fazer?

Segundo a psicóloga, a doutora Informática, com o tempo, ele iria compreender que havia, sim, uma diferença inegável entre ele e a máquina: o coração. Nele, por mais involuntário que fosse, o coração pulsava, sentia; na máquina, não. Uma vez que faltou energia e ele se viu sozinho, pode entender isso. Um fato. Mas três minutos depois, depois que voltou a luz e a máquina se religou automaticamente, lá estava ele, outra vez, de bate-papo com os amigos virtuais. 

Uma manhã, os pais saíram para trabalhar e o deixaram sozinho por uma boa meia hora, até que a babá chegasse. Aconteceu que a mulher fora acometida por uma virose que infestava a cidade e não foi. O telefone estava sem crédito e por isso não pôde avisar aos patrões. O menino, que já não dormia, não comia, não brincava, não ia à escola, sequer percebeu a sua falta. Estava digitando alguma coisa quando, de repente, ouviu um estrondo dentro da CPU. Oxe, que foi isso? Abaixou-se, olhou em redor, puxou-a para frente de modo que pudesse averiguar atrás se tinha algum problema visível, um fio solto, um curto-circuito. Nada. Tudo parecia normal. Mas observou ainda intrigado que o monitor havia se apagado. Estava tudo escuro. 

Coçou a cabeça. Que houve, afinal?

Uma voz o alertou:

“Dudu!”

Ele se assustou, olhou em volta, levantou-se da cadeira, sentou-se novamente.

“Dudu!”— a voz tornou a chamá-lo. 

Não podia ser, mas era: a voz saía de dentro do computador. Como? Isso ele ainda precisava descobrir.

A voz continuou:

“Dudu, meu amigo, eu sou um pequeno vírus. Tenho a sua idade e me chamo Hackinho”.

— Como assim? — Dudu perguntou. 

“Exatamente o que você está pensando: sou um hacker de mim mesmo”.

— Ainda não entendi.

“Vou lhe explicar: vivo dentro da rede, ou seja, ando por todos os computadores ligados aliciando crianças como você”.

— E quem disse que eu fui “aliciado”?

“Calma, deixe-me explicar: tenho o poder de persuadir crianças como você, que se entregam ao primeiro toque no mouse. Ficam fascinadas e não veem mais nada adiante”.

— Não foi o meu caso — Dudu disse com certa irritação.

“Pensam que, só porque têm o poder de ‘teclar’ com muitas pessoas diferentes, às vezes, que nem existem, são apenas virtuais, podem desobedecer aos pais, deixam de estudar, de brincar, de comer, de dormir. Deixam de viver, o que é muito mais grave. 

Dudu franziu a testa, mas Hackinho não parou:

“Para tudo há espaço na vida: seja para brincar, crescer, ou mesmo para ficar à frente desta máquina. No entanto, não se pode, sob hipótese alguma, deixar de ser criança, de conviver com as outras crianças, de ir à escola e aprender. A escola é o único caminho que temos para construirmos um mundo melhor”.

— Por que você disse ‘construirmos um mundo’, se você é um vírus? — quis saber Dudu, encafifado.

“Eu também já fui você.”

O menino se surpreendeu de novo:

— Não entendi.

“Eu era uma criança como você e como você eu ganhei uma máquina dessas e me debrucei à frente de tal forma, que me incorporei a ela e nunca mais vi os meus pais”.

— Sinto muito.

“Eu tinha uma vida perfeita: corria, brincava, estudava, lia, vivia. De repente, troquei tudo por um mundo virtual. Sei que os meus pais sofreram muito com a minha ausência, a minha desistência da vida real. Quando percebi, já era tarde: estava preso aqui para sempre com a incumbência de assediar, conquistar e trazer para cá crianças assim como você”.

— Então o que o fez mudar de ideia?

“Ao ver o sofrimento dos seus pais, tentando de tudo para salvá-lo, eu compreendi o mal que tinha feito aos meus, por isso resolvi alertá-lo”.

— Não sei o que dizer.

“Não precisa dizer nada. Apenas viva como qualquer criança feliz. Não vai lhe faltar tempo, nem mesmo para se divertir aqui à minha frente. Faça suas tarefas escolares, durma normalmente, estude e, principalmente, dê atenção e a devida importância à família maravilhosa que você tem e que tanto o ama”.

— Mas... 

“Amanhã, quando você voltar aqui, mesmo que eu não esteja pessoalmente, quero saber que você é uma criança alegre, feliz, saudável, como outra qualquer”.

— E você...?

“Eu sou um vírus autodestrutivo.”

— Ainda vai aliciar pessoas?

“Somente aquelas que não têm sonhos.”

— Obrigado.

Dudu foi à cozinha para comer alguma coisa, depois foi tomar um banho e fazer os deveres de casa, que estavam tão acumulados, para esperar os pais, X e Y, chegarem do trabalho. 

 Eles também eram virtuais.

Aniversariante do Dia

 

O Blog Ibirataia parabeniza hoje (2/8) Ederval Reis Moura desejando que sua vida seja sempre uma soma de vitórias, com a certeza de que o melhor espera por você.

Os administradores do Grupo do Grupo Ibirataia, Wilckson e Denise, te desejam muito sucesso, conquistas e grande realizações.


Festival Gastronômico em Maricá

 

Festival Gastronômico Torresmo Festa em Maricá, promete reunir uma multidão. O Festival conta com mais de 20 expositores com diversos pratos preparados com carne suína, além de hamburguês, doces, chopp artesanal, Baião de Dois e Arroz Carreteiro.

          Serviço :

Dias: (27/8) a domingo (30/8)

Horário: Das 12:00 h às 22:00

Local: Estacionamento do Boulevard Maricá

Entrada França 



Aniversariante do Dia

 

Feliz Aniversário!
O Blog Ibirataia parabeniza hoje (2/8) Rosane desejando muita paz, saúde e felicidades, amor, alegrias, sorte e sucesso.


Os Administradores do Grupo Ibirataia te desejam um Feliz Aniversário e que você realize todos os seus sonhos.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Aniversariante do Dia

 

O Blog Ibirataia parabeniza hoje (01) Jailton da Silva desejando muita paz, saúde, felicidades e muito sucesso. Parabéns e Feliz Aniversário!

Aniversariante do Dia

 

O Blog Ibirataia parabeniza hoje (01) o escritor Enàgio Fagner Albuquerque desejando um feliz aniversário cheio de paz, amor e saúde.



Projeto Fundação Dr. Cauê Braz



No dia 3 de agosto será o atendimento para o  cadastramento, no projeto Dr. Cauê Braz.


           Serviço

Data: 03/08/2023

Horário: A partir das 17:00

Endereço: Rua Otávio Machado

Referência: Em frente ao Conselho Tutelar

Telefone : (73) 98192-2077 falar com Stephane Machado

         Documentos Necessários:

RG

CPF

NIS

Comprovante de endereço

Documentos da Criança 



segunda-feira, 31 de julho de 2023

Acidente de carro deixa soldado morto

 

Morreu o soldado da Polícia Militar Douglas Henrique de Souza Vasconcelos, de 31 anos, ele estava no carro com a esposa, após atropelar um cavalo na Br- 101 em Conceição da Barra, norte do Espírito Santo, na madrugada de domingo(30).

O Blog Ibitataia se solidariza com os familiares e amigos.

Ídolo do Flamengo é agredido por preparador fisico

 

O preparador fisico Pablo Fernandez foi dispensado do clube, após a vitória do Flamengo 2 a 1 diante do Atlético(MG). 

O preparador físico aproximou-se do jogador e colocou o dedo na cara de Pedro e questionou por qual motivo ele não estava aquecendo e qual razão,  que era falta de respeito com o preparador e deu três tapas no seu rosto, Pedro tirou a mão, e o preparador físico desferiu um soco no rosto do atleta, e de acordo com relato de outros jogadores que contiveram Pablo, que queria  continuar com as agressões. O jogador fez um boletim de Ocorrência no qual relatou a agressão.

O Beija- Flor Que Não Sabia Voar


Do livro com o mesmo nome do escritor Achel Tinoco

A mamãe beija-flor levou para fora do ninho o pequeno Coli, para ensiná-lo a voar. Empoleirou-o na borda do ninho e foi lhe explicando como deveria bater as asinhas, sincronizar os movimentos, a velocidade exata, a magia, até alçar voo. Ele sacudiu-se todo, mas não saiu do lugar.

Dona Beja Rubricauda coçou, com a pontinha da unha, o papo amarronzado. Ficou a procurar uma explicação para a negativa da natureza; entristeceu-se. Afinal, como poderia um beija-flor não saber voar? A preocupação maior era com o futuro: como um beija-flor sobreviveria sem poder sobrevoar os campos para buscar alimentos? Como conquistaria uma família tendo as asas paralisadas? Não bastasse, ficaria vulnerável. Todo e qualquer predador achar-se-ia no direito de capturá-lo. 

Mas era fato: o seu filhote não conseguia voar. Até que ele esforçou-se: bateu as asinhas dez vezes num minuto — a mãe batia oitenta vezes num segundo. Se não conseguia se sustentar no ar, como poderia sugar o néctar das flores, que consistia em noventa por cento de sua alimentação? 

Ah, preocupação sem tamanho dessa mãe! 

Com o seu bico alongado e a língua bifurcada, ela tentou novamente mostrar ao menino como ele deveria extrair o néctar de uma flor de sálvia, abaixo quatro metros de onde estava. Mergulhou num voo reto, pairou à frente da planta e enfiou o bico alongado no âmago da flor. Tirou lá de dentro algumas gotinhas e as depositou no bico aberto do filhote, que as sorveu de uma vez. 

Coli absorveu o ensinamento, esforçou-se, mas, em vez de voar, pulou lá de cima e precipitou-se cá embaixo. Não tinha natureza de beija-flor. Não podia voar. Dona Beja cobriu os olhos com as asinhas esverdeadas e translúcidas: 

“Que será deste meu filho?”

Coli levantou-se como pôde. Sacudiu as asas, limpou as penas desarrumadas e sorriu. Para ele, a cena não deixou de ser engraçada, bem poderia fazer parte de alguma historinha infantil que pretendia contar... Andava ensaiando alguns pequenos escritos às escondidas.  

Dona Beja pegou-o pelo bico e o levou de volta ao ninho, que ficava sobre uma árvore de figo, em meio a um bosque. Saiu por um minuto e voltou em seguida trazendo mais néctar. Talvez ele não tivesse se alimentado direito, estivesse fraco. Alimentou-o, cobriu-o com umas penas soltas e acomodou-o sob as suas asas de mãe para aquecê-lo. A noite já se fazia presente. Nada como uma nova manhã para se ter com outras lições.

Cedinho, ela saiu de casa para caçar. Voltou com o bico cheio. Encontrou Coli já acordado, ainda se espreguiçando. Depois de escovar o bico, ele ficou a admirar-se numa posição de pensador. Ela fez tititi, e ele abriu o bico para receber o alimento: mosquinhas in natura. Ele sugou-as com gulodice de dentro do bico da mãe e engoliu-as inteiras. Ficou satisfeito. Virou-se para o outro lado e tirou um ronco. Depois voltou ao afazer que já tinha começado quando a mãe o interrompeu para dar-lhe as mosquinhas que acabara de caçar. 

De fato, Coli havia crescido bastante: era agora um rapagão de quase 12 centímetros e 20 gramas de peso. Estava na hora de matriculá-lo numa escola. Dona Beja achava de suma importância a educação dos filhos. O segundo, Humming, estava alfabetizado. Ainda que não fosse um aluno brilhante, preocupava-se mais com o brilho das plumas do que com as folhas dos livros. 

Havia uma escola no bosque que servia a todos os filhos beija-flores, chamada Esmeralda de Gould. Coli encantou-se com o mundo estudantil, qual se sonhasse com ele desde a meninice: um mundo de conhecimentos. Não custou a fazer amizade com os coleguinhas, principalmente um da família Chlorostilbon lucidus, chamado Verdinho-do-bico-vermelho, mas, para simplificar, chamava-o simplesmente de Verdinho. Era um rapazinho simpático, que gostava muito de estudar, o que fez Coli tomar gosto ainda mais pelas letras e, consequentemente, pela leitura. 

Não parou mais de ler.

A mãe, Dona Beja, chamou o filho mais velho e perguntou o que tanto lia Coli. Ela não queria ser enxerida, por isso achou melhor perguntar ao primogênito. Este balançou a longa cauda em forma de tesoura, pigarreou, foi lá, veio cá, avistou com sua visão apurada uma formiguinha caminhando pela beira do rio, desconversou e disse à mãe que precisava sair para sugar o néctar de um cipó-de-são-joão.

— Menino, por quem me tomas? — perguntou-lhe Dona Beja no seu jeitão de madrasta. — Vamos, vamos, diga logo o que está acontecendo?

— É... bem, mãe, o Coli anda lendo umas historinhas infantis!...

— E daí...?

— Quer escrever um livro.

— Isso não é bom? — perguntou desdenhosa.

Humming deu de ombros, esparramou a cauda, completou:

— Anda escrevendo às escondidas, com medo de a senhora não aprovar.

Dona Beja levantou voo, subiu o mais alto que pôde, pousou no olho do pé de um abacateiro. Pensou. Depois voltou depressa, deu voltas ao redor do ninho e, por último, pousou numa galha fina ao redor da casa, deveras preocupada: 

“Então é isso!”

 Não se interporia às escolhas de um filho, muito menos de um que pretendia ser escritor, ainda que o caminho para esses artistas quase sempre fosse cheio de pedras e temporais. Nenhuma arte poderia ser mais nobre e difícil também. Mas não deixava de ser engraçado: um filho que não sabia bater as próprias asas para voar e agora queria voar nas asas imaginativas da literatura. 

 Foi conversar com o filho:

 — Meu Colizinho, que tanto você anda lendo? Conte a sua mãe.

 — Umas historinhas, mãe, só isso.

 — Se é só isso, por que sua mãe não pode ver?

 — Ah, mãe, coisa minha.

 Como ele não voava, a mãe alimentava-o, levava-o à escola, ao rio, ao jardim, ao parque. Mas, agora, como levá-lo ao mundo mágico das letras se ela não o conhecia? 

 — Soube que você anda escrevendo algumas coisas!

 — Nada demais — limitou-se a dizer.

 — Meu filho, qualquer profissão que você escolher, vai ter de batalhar muito se quiser galgar o sucesso. Portanto, se você pretende mesmo seguir essa carreira, vá em frente. — E acrescentou: — Seja como for, saiba que eu vou estar do seu lado. Ficarei muito orgulhosa se você se tornar um escritor, mesmo que não seja dos grandes. Mas, para mim, você será sempre o maior de todos.

 O menino calou-se pensativo, como se já se visse lá adiante entre tantos livros publicados. Ou nenhum. Tremeu as asinhas. 

Dona Beja afastou-se. Voou. 

 Coli voltou à leitura. De alguma forma, as palavras da mãe fê-lo sentir-se mais confiante. Na escola, começou a rabiscar versinhos nos cadernos das coleguinhas. Elas ficavam encantadas com o seu jeito e a sua habilidade com as palavras. Algumas andavam arriando as asinhas para ele, mas, como não sabia voar, ficava nas piscadelas de olhos, nada além. Enquanto isso, nas páginas dos livros, voava e voava como se o mundo não tivesse horizontes nem limites. 

 Um sonhador, a mãe dizia dele, mas o admirava pela labuta de escrever. E ele escrevia, e lia, e escrevia, até que um dia anunciou que tinha um livrinho pronto. Um livrinho para crianças. A mãe deu pulos, voos rasantes; o irmão fez troça, disse que agora ele voava mais alto do que todos da espécie. 

 Juntou o que tinha escrito numas folhas de bananeira, enrolou num rolo e mandou o livro para trinta e duas editoras. O tempo passou, oito meses, e ainda nem uma havia mandado uma resposta. A decepção podia-lhe ser distinguida nos olhinhos a qualquer distância. Sem dinheiro para bancar os custos de uma publicação independente, foi ao quintal do vizinho arriscar a sorte num bilhete de loteria. Na fila, viu uma pequena fêmea de beija-flor de bico grande, tão grande que chegou a pensar que ela estivesse muita zangada. 

Olhou duas vezes e tirou os olhos, achou-a tão bonita e redondinha. Se não se apresentasse, jamais a encontraria novamente. Encheu o peito de ar e aproximou-se para conversar. Não tinha a aptidão narcisista de Humming, mas ele também não tinha a sua aptidão com as palavras, oxente!

 A menina chamava-se Taty e era uma estrelinha-ametista. Ele enamorou-se dela. Gostou tanto da conversa, que a convidou a uma porção de néctar sob uma roseira ao lado. Taty logo percebeu as suas dificuldades de pouso, o andar desajeitado, as asas mortas. Não fez caso, falou de poesia. Coli encantou-se, fez todos os floreios, chegou a esquecer-se de sua necessidade especial. Não parecia importante. Os livros eram importantes; podia voar pelas suas páginas com desenvoltura. Quiçá ela pudesse acompanhá-lo. 

 Noutras conversas, Taty disse-lhe que ouvira falar na escola de uma editora pequena chamada Colibri, que fazia ótimos trabalhos e recebia originais de escritores iniciantes. Coli encheu-se de esperança outra vez. Viu-se imediatamente publicando seu livrinho. Ameaçou bater as asas, mas caiu de banda. Ela riu-se. Ele correu para encontrar um mensageiro a tempo de levar o rolo de folhas de bananeira com os seus escritos à Colibri. Restava-lhe esperar.

 Dias depois o editor de papo branco mandou chamá-lo. Disse-lhe sem preâmbulos que havia gostado do livro e que poderia editá-lo, edição pequena, não mais que 500 exemplares. Ora, está bem demais, o menino ficou mais verde. Contudo, precisava consertar alguns errinhos, umas vírgulas, nada que depreciasse a obra. 

 Nesse meio tempo, Coli comunicou a Dona Beja que traria Taty para morar com ele. Uma alegria para ela; afinal, o filho teria alguém que cuidasse dele e o incentivasse, amasse-o do jeito que era. Quem sabe, em breve, netinhos andariam a voar por ali tudo.

 O livro de Coli chegou três meses depois. Ele foi abrindo o pacote como quem abria a própria história: com expectativa e incerteza. Os seus olhos brilharam intensamente ao ver a capa com a sua imagem refletida, sob letras garrafais onde se destacava o título: O BEIJA-FLOR QUE NÃO SABIA VOAR. 

Abaixo, estava impresso: 

“A leitura protege o cérebro, aquece o coração e liberta a alma.” 

O seu nome artístico, em letras menores: Coli Tobago — alusão à região de onde era originário. 

Dedicou o primeiro exemplar à mãe, que encheu os olhos de lágrimas, depois a Taty e ao irmão Humming. 

Coli espalhou sua arte e, embora não soubesse voar com as próprias asas, voou mais alto do que todos os outros das trezentas e trinta e duas espécies conhecidas.

A noite de autógrafos foi um acontecimento no bosque.

Ensaio sobre a Depressão

 Escritor e poeta Achel Tinôco.

Qual força domina a nossa mente a ponto de nos jogar da ribanceira?

Mergulhamos no pântano indomável da depressão. 

Não é besteira. 

De modo a não mais voltarmos à superfície. 

Ficamos sem saber qual ponte caída interrompeu o coração.  

Que doidice!

O sol devia estar no meio do céu. Mas hoje, exatamente neste momento, nos faltou. Foi-se para o beleléu. 

Os sentimentos, por ora, se misturam, formando uma pasta disforme de ideias desencontradas. Não sabemos como organizá-las. Não escutamos mais nada. Tudo é vazio.

Não é possível crer que alguém tão especial, tão artista, tão sensível como tu, sejas assim dominado sem luta, sem leitura, sem música.

Por que não conseguiste se defender? 

O carrasco ergueu sua espada... E daí? Chuta o entardecer.

Faz frio nesse coração desagasalhado, decerto. Não há abrigo que nos proteja.

Eu brigo comigo, é verdade. Tu não entendes o porquê desse golpe certeiro. 

A água sobe aos olhos, mas, talvez, nem nos dê tempo de chorar. 

Afundamo-nos nas profundezas do rio Para Sempre. 

Só nos resta empunhar o abismo.

Tu vais se dependurar na janela...?

Não chegarei a tempo de salvar-te.

E nos vemos todos na borra duma vela, 

Até concluirmos: a mente é um território indomável. 

À parte, a tragédia está escrita. Infelizmente.

Não cabe nenhuma crítica.

CONTINUIDADE OPERAÇÃO IBIRA 4ª FASE

  Dando continuidade à operação IBIRA – 4ª fase, na tarde desta quinta-feira(10), foi realizada diligência em uma residência, no intuito de ...