Tudo vai bem se não colocarmos sobre a mesa alguns dinheiros, mesmo que não sejam nossos, que não sejam de nossas plantações. Aí, todo mundo briga: seja filho, seja pai, seja irmão. E ainda tem aqueles oportunistas de ocasião, que ficam na boca de espera a recolher as migalhas que por acaso caírem ao chão. Afora os filhos de outros "amores" que, invariavelmente, vêem reclamar seu quinhão. E se for famoso, então, a briga vai longe, e com tantos advogados que ao fim da peleja sobra pouco para se contar. Imaginem se não tivesse dinheiro envolvido, se não tivesse herança, se não tivesse nada a repartir, somente o pão da hora, tudo seria calmo e sereno, tão somente a dor da perda e as lágrimas de obrigação. Não, ninguém entraria nessa contenda, e no final do cortejo aquele abraço fraternal, a saudade já batendo à porta, tantas lembranças para sorrir e para chorar. Ah, mas, infelizmente, deixou-se muita coisa: os nossos bens, as nossas riquezas. E quando chega a hora de se abrir o testamento, se testamento houver, é aquela alegria, é aquela tristeza, é aquela decepção: mas por que fulano tem mais direito do que eu? Ora, meu Deus, eu que sempre estive presente e sempre fiz tanto!... Não vou aceitar injustiças. O que é meu ninguém tasca.
Pois é exatamente isso o que acontece todo dia: vejam vocês que a herança de Pelé continua a ser dividida, menos os seus gols que não precisam, deixe-os à posteridade; a de Gugu Liberato, tem tanto ex envolvido, que não se sabe qual futuro a gastará; a de Palmeirinha, coitada da cozinheira Palmeirinha, nem os seus quitutes têm mais importância; e tão recente, ontem mesmo, a de Zagallo, o velho Lobo, anda a se engolir de tristeza por causa de tanta briga entre os filhos.
Como diria aquele poeta: "Eles passarão, eu passarinho."
Pelo menos, tenho certeza de uma coisa: pela minha herança de livros, de versos, de parcos amores, ninguém vai brigar; e ninguém vai chorar por mim.
Matéria: Achel Tinoco
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