Matéria: Escritor Achel Tinoco
Já perceberam um fenômeno novo? As pessoas não estão mais com vontade de assistir TV. As crianças, faz tempo, já não assistem TV, preferem os vídeos, os youtubers, os celulares. Lembro-me da primeira vez que eu vi uma TV ligada, na casa do meu avô, na fazenda, logo após o homem pisar a lua. Tudo em preto e branco. Não víamos o mundo tão colorido como o de hoje, ainda que nos pareça mais escuro. A TV era ligada às 11 horas da manhã, “TV Aratu, canal 4, salvador, meu amor, Bahia...”. Ah, pensem num menino ansioso a cada manhã! E aquelas fatídica 11 horas que não batiam nos ponteiros do relógio de madeira sobre a cristaleira da sala, eu olhava para o aparelho sobre a mesinha, ia lá fora, vinha cá dentro, nada de a TV entrar no ar. E quando meu avô, finalmente, a ligava, só um chuvisco aparecia na tela de vidro, e aquele chiado de chuva na janela, nada mais do que isso.
— Calma, menino, ainda não são 11 horas — dizia meu avô, mas acredito que ele também ficava impaciente para aparecerem logo as benditas imagens.
Aos domingos, os trabalhadores da fazenda se apinhavam na janela para ver o futebol. Eu era invocado por futebol, e nos babas de todo fim de tarde, me sobressaia dos demais, mais velhos e maiores do que eu. Um promissor camisa 10. Torcedor do Fluminense. Assim sendo, era-me imprescindível a TV. O rádio já não me bastava. Lembro-me com carinho do “Meu pé de laranja lima, Vila Sésamo, Programa Flávio Cavalcanti, Irmãos Coragem, e os filmes de bang-bang — Roy Rogeres, Wild Bill Hickok, Rin-tim-tim. Finalmente Tarzan, que mesmo não sendo do velho oeste, tinha lá seus encantos, ainda mais para um menino tão magrinho que morava numa fazenda e todo dia andava pelos matos.
A Copa do Mundo de Futebol. O país parou. Um gol após o outro. Eu colecionava revistas que tivessem fotos da Seleção Brasileira e de Rivelino, principalmente. Brasil tricampeão mundial. Um tio meu pulou tão alto, que bateu a cabeça numa pilastra da sala. Que saudade eu tenho da TV daquela época. Um velho e suas reminiscências? Não, um homem que não tem mais o mesmo encanto pela TV. E o colorido ‘perfect’ da imagem não me traz a mesma emoção daquela tela sem cor, ainda por cima ‘chuviscosa’, ‘chiadenta’, com listras horizontais que não paravam de passar.
Os programas de TV de hoje, com raras exceções, são medíocres, insosso, mentirosos, perniciosos. Até parece que essa imagem perfeita não chega perto dos tufinhos de Bombril agarrados na ponta das antenas de antanho.
Acho que eu queria ver novamente aquelas imagens cheias de chiado e de chuvisco. “TV Aratu está no ar!...”
TV Aratu
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