Volta às Aulas
Achel Tinoco
Impressiona-me sobremaneira como a sociedade brasileira é indiferente a certas atitudes dela própria, principalmente quando se trata de Educação. Não podemos abrir mão do carnaval, do futebol, da eleição. Mas da escola, podemos? Os ouvidos estão moucos, e ninguém parece se preocupar com o fato de as crianças estarem, há 200 dias, sem aula — na Dinamarca, 30; na França, 56; na Alemanha, 68 dias. No Brasil, elas estão continuam em casa, confinadas, nada a fazer, fingindo que estudam ao celular um ano que não começou. Sabemos que raramente uma criança pega o covid (menos de 1%). Então o que está por trás dessa propaganda incessante? Por que as crianças não podem voltar às aulas? Quem vai pagar por esse déficit de aprendizado, de comportamento, de letras? Não bastam o álcool em gel e a máscara pastel? Que tal plastificá-las? Não se procura uma solução imediata, não, o ano está acabando e o mais importante é a data do carnaval, uma vez que as eleições municipais já chegaram para dourar o seu voto, tanto que as discussões sobre a pandemia viraram lugar-comum, fugiram das convenções; os números são agora divulgados discretamente, os óbitos voltaram a ser por motivos diversos; os infectados estão entre nós e os testados são para as estatísticas. O vírus deu um tempo na periculosidade, para se transformar num bom cabo eleitoral, citado exaustivamente na propaganda política, afinal todos os candidatos são o pai da criança salva. “O que importa é a vida”. É. Mas a vida de quem? Talvez dessas celebridades de ocasião, desses especialistas do contra, criadores de protocolos protocolares para amedrontar a população. Faz pouco tempo, eles diziam empertigados: “Não se pode fechar fronteiras”. Fecharam as cidades. “Seu covíd, aqui o senhor não entra”. Lockdown. Sofremos um knockdown, estamos ainda tontos, e nem sabemos quando poderemos nos levantar...
Acontece que as crianças não suportam mais ficar em casa. Tenho uma que me diz todo dia que nunca mais na vida vai reclamar por ter de acordar cedo para ir à escola; tenho outra que diz que precisa se encontrar com os colegas; tenho todas que dizem que estudar é chato, mas ficar em casa o dia inteiro é pior ainda. Serão as mais prejudicadas no fim dos tempos, e nunca saberão explicar... As mães, coitadas, que o digam! Chega desse distanciamento escolar.
Volta às aulas, já.
Matéria: Escritor e poeta Achel Tinoco
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