Achel Tinoco
De repente, você percebe um perfume no ar e tudo se transforma no seu dia, surge uma sensação de que se pode ouvir e falar através do olfato; e uma alegria instantânea lhe chega não se sabe de onde: daquele perfume que você ainda não sabe de quem é, mas que lhe traz recordações e uma doce saudade, mesmo que não a distinga. Você olha para todos os lados, sem ainda saber de quem é esse cheiro bom que tanto lhe reaviva a alma e o sorriso. Parece que um jardim de orquídeas está a lhe cercar. Mas bem sabe que não, não há orquídeas nem rosas. Há apenas impregnando o ar um aroma quase ‘audível’ que, por muito tempo, andou a lhe fazer sonhar de um jeito agradável, suave, romântico, mas, por algum motivo, foi obrigado a descartá-lo, ou a escondê-lo dentro do mesmo frasco do qual o descobrira.
No entanto, a magia daqueles momentos, por mais esquecidos de que sejam obrigados a estar, não sai de você, nunca o deixa só. Anda rodeado por mágicas lembranças, como se esse cheiro viesse de uma rosa encantada. E como disse o historiador francês Alain Corbin, “o olfato, melhor que os outros sentidos, permite experimentar a harmonia da organização do mundo. O odor natural conduz, por sua própria fugacidade, ao sentimento de acordo universal que torna a morte incompreensível e permite a esperança de um mundo melhor”.
Um perfume é assim o mais vaidoso dos poemas. Cada indivíduo o lê e o entende de uma forma, cada um o absorve de acordo às suas conveniências e momentos por quais estejam passando. Ao longo da caminhada, outros poemas vão surgindo, outros aromas no lugar dos versos, outras escolhas no lugar das estrofes... Um que marcou sua vida deve permanecer para sempre, como um amor especial que passa, mas nunca se esquece.
O perfume não o despe jamais, ainda que todas as roupas e as tristezas e as alegrias sejam tiradas de você.
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