"As filhas de Eurico Leite e de dona Yazinha estudavam com Dylce Ferreira Teles — a adorável Dinha Dylce — na Escolinha Chapeuzinho Vermelho. A professora não se cansava de as incentivar: se apresentassem no coral da igreja, nas festas do clube ou no Natal, ao lado do presépio armado por elas. Numa tarde de dezembro vizinha ao ano novo, Eurico as levou para apresentá-las ao novo médico que acabara de chegar de Vitória da Conquista, chamado Gil Passos Moreira e à sua esposa Claudina. O entrosamento das meninas com o filho dos Moreira se deu com incrível rapidez. O menino Gilberto não tinha mais de treze anos e, para encantamento das garotas, tocava acordeão. Em pouco, estavam tocando e cantarolando os baiões de Luiz Gonzaga nos teatrinhos inventados por Dinha Dylce para movimentar as férias da turma. Não queria ver ninguém com tempo ocioso, procurava incentivá-los para as artes. Educar através da arte, como pretendia a Hora da Criança.
"As meninas gostavam de ir à Vila Ferreira, da tia Aurora; de se banhar na bica da Chita Fina, correr pela chácara, colher mangas, tamarindos, laranjas, abacates. Voltavam realizadas para casa, os cabelos desgrenhados, os pés furados por espinhos. Não desistiam de representar no teatrinho montado no galpão ao lado peças singelas feitas à medida de suas idades sonhadoras.
Mas um dia, naquele ano de 1964, as quatro irmãs foram embora para o Rio de Janeiro, para formar o 'Quarteto em Cy' — nome com o qual o poeta Vinícius de Morais batizaria o grupo composto por Cyva, Cynara, Cybele e Cylene."
Cynara Faria, esta aí de óculos vermelho, tão ativa, tão delicada, tão querida, nos deixa hoje, aos 78 anos. Falei com ela no mês passado, querida uma fotografia antiga. Fica a sua voz suave, a sua música eterna, a sua saudade imensa.
O meu abraço muito carinhoso para Cyva, sua irmã, para seus filhos Chico, Irene e João.
Sentimos muito!
Cynara, amada prima, seja a nossa canção, a mais bela, a mais sensível, e que nos toque profundamente. Sempre.
Matéria: Escritor Achel Tinoco
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