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Ensaio Sobre o Sonho


Ah, o sonho! Encontrei-o ainda na infância, correndo pelos pastos da fazenda Vila Ferreira. Naquele tempo, não passava de um cavalinho baio, uma bicicleta Caloi, uma bola de couro. Seria um grande jogador — ficasse no pasto o cavalo, na garagem a bicicleta. O meu sonho era então ser um jogador de futebol. Já o sabendo que para este, precisa-se correr atrás, e não só atrás da bola; o sonho estende-se, adianta-se, veloz. Com as minhas pernas finas e afracadas, não o alcancei. Façamos outros. A vida os incorpora todos. Não havemos de desistir do sonho, nem deste nem d’outros, afora os sonhos da meia-noite, aqueles que nos vêm retirar do peito as pedras da adolescência: olha lá a Miriam Rios, nua, bela, impossível. A manhã chega brumosa, trazendo consigo apenas resquícios do rosto dela, nada mais. Ontem veio a Rose di Primo, visível, perfumada, tão real: esfumou-se ainda na madrugada. Ficam vagas lembranças a vagar sobre as vagas do mar, isso se uma vez conseguimos nos lembrar do sonho inteiro, e neste caso, o dia passa sob um luaceiro de mármore polido a refletir aquela imagem santificada que parece sair jamais da cabeça. O sonho então se transforma num estudo de matemática tridimensional: seria um gênio da matemática, mas isso quem acredita é o meu pai, somente ele. Por enquanto, ficam outros sonhos a rondar a noite: ora, lá por cima; vezes, cá por baixo, e uma voz orquestrada que nos diz: “Não desistas do teu sonho, menino, nem que alvoreça!” Mas enfim, numa manhã qualquer eis que surge o sonho definitivo, aquele em cujos pés havemos de calçar os nossos sapatos e seguir seus passos por onde ele for. E, já sob uma licença poética, ele foi pelas folhas mortas de um caderno, onde havia não mais que umas vontades alucinadas de escrever sobre algumas linhas serpejantes... Mas escrever o quê? Poesia. O quê? O susto foi geral: do próprio coração, que já se fizera poeta; dos pais, que temem a fome do filho; dos amigos, que o vê sob a sombra do coqueiral. Eis os livros, livros, livros... Tão foi a minha “depressão pós-livro”, o livro passou a ser apenas um sonho de outrora, como se nunca eu o tivesse escrito, precisando por isso começar tudo outra vez. 

Ah, o sonho! Esse filho eterno que carregamos pela vida toda, mesmo quando não o parimos. O sonho é o que sou, e como o ‘Cubas’ machadiano, “tantos sonhos e eu não sou nada.” Aliás, nunca fui nada, por isso mesmo também não deixo a nenhuma criatura a herança livresca dos meus sonhos inacabados.


Matéria: Escritor Achel Tinoco

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