Do livro do escritor Achel Tinoco.
“'Anjo da Guarda'. Era assim chamada a ermida de Setúbal, em Portugal, erguida em 1669, e, posteriormente, de Igreja do Senhor do Bonfim. Dom João V, o Magnânimo, não se fez de rogado: diante da imagem do Senhor do Bonfim, fez promessas pelo restabelecimento da saúde de seu pai, o rei Dom Pedro II. E lá vamos nós, mar dentro, quando Theodorico Rodrigues de Faria, natural de Setúbal, capitão de mar e guerra da marinha portuguesa, dono de três navios negreiros que traziam escravizados da África Ocidental para o Brasil, e também fervoroso devoto do Senhor do Bonfim, durante uma tempestade marítima fez esta promessa: se sobrevivesse, levaria pessoalmente para o Brasil as imagens do Senhor Jesus do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia. O homem se salvou e cumpriu a promessa. Não trouxera as imagens verdadeiras, por óbvios motivos, e, sim, réplicas da representação dos santos, que ao povo de cá não faria diferença. A imagem do Senhor do Bonfim não impressionava pelo tamanho, puramente pela simbologia, tinha pouco mais de um metro de altura. Chegaram pela Páscoa, domingo, 18 de abril de 1745, e foram abrigadas, por nove anos, na Igreja de Nossa Senhora da Penha de França, na Ribeira, tempo da construção de outra igreja na colina da Península de Itapagipe, cuja propriedade chamava-se Alto do Montserrat. E, neste momento, começou também o culto ao Senhor do Bonfim e à Nossa Senhora da Guia com a criação da “Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim”, irmandade de leigos reconhecida pelo então arcebispo Dom José Botelho de Matos, presente na sua fundação.
A capela teve as obras iniciadas em 1746. Após a conclusão das obras internas, no dia 24 de junho de 1754, a sagrada imagem foi levada em procissão da Igreja da Penha para a Colina do Bonfim, como ficou conhecida. O VI vice-rei estava presente junto da população na celebração da missa solene. Em 1772, as torres da igreja foram finalizadas e as obras finalmente concluídas. Passado um ano, iniciou-se a tradição da lavagem da igreja. Como não havia calçamento no local, os fiéis entravam na nave com os pés sujos de areia, por isso os integrantes da Irmandade dos Devotos Leigos obrigaram os escravos a lavarem a igreja como parte dos preparativos para a festa do Senhor do Bonfim, no segundo domingo de janeiro, após o Dia de Reis. Com o tempo, foi proibida a lavagem na parte interna do templo e o ritual foi transferido para as escadarias e o adro. E em 1809, as fitinhas do Senhor do Bonfim foram introduzidas, ideia de Manoel Antônio da Silva Servo, tesoureiro da devoção, que procurava uma forma de aumentar a arrecadação de dinheiro para a adoração ao Senhor do Bonfim. Na época, eram feitas de algodão e chamadas de “medidas” porque tinham exatamente 47 centímetros, a medida do braço direito da estátua do Senhor do Bonfim."
do livro "O conto da ilha de Taparica".
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