A morte bate à sua porta e diz:
— Oi de casa!
A vida, que acabara de acordar, assustou-se, ergueu a cabeça e pôs ouvidos a escutar... Voltou à escuridão de seu quarto de dormir.
Mas a morte tornou a chamar:
— Tem alguém em casa?
A vida então pulou da cama, esticou os braços, e foi abrir a porta.
— Que queres tu de mim, senhora impiedosa?
— Prepara-te, porque vim te buscar — disse a morte já com enfado. — Nada mais do que isso.
— Lá ele! Procure outra para levar...
— Tens que ser tu.
— Por quê?.
A morte empertigou-se:
— Chegou a tua hora.
— Atrasa o teu relógio, ora! — disse-lhe em tom pueril.
— Não tenho pulso.
A vida então franziu o cenho descorado e disse numa voz plangente:
— Se não tens pulso, como pretendes me levar?
Ela, a velha morte, estacou:
— Não blasfemes, ó, vida — disse com autoridade.
— Decerto não me ouves: nego-me a segp!uir-te.
— Ficarás aqui sem vida até apodrecer-te as carnes.
A vida não pestanejou:
— Pois que seja. A esperança é a última que morre.
— Não. A esperança é a primeira a morrer.
— Tu és a noite...
— Tu és o dia.
— Aqueles que nunca se encontram: o sol e a lua.
A morte olhou para o norte a seguir, ar sombrio, o contraditório:
— Não sentirás a dor deste momento.
— Por que queres me tirar de mim?
— Quero que sigas o curso do rio...
— Pois, viver é o curso natural.
— Morrer também o é.
— Vai na frente, que eu te acompanho, enfim.
A vida bate a porta atrás de si.
Seguiu-se o cortejo.
Comentários
Postar um comentário