O tempo passou ligeiro...
Onde foi que a gente se perdeu?
Desfez a roda.
Soltou as mãos.
Silenciou a cantiga.
Trancou as portas.
Encerrou a brincadeira.
Onde foi que a gente se perdeu?
Parou de contar estrelas.
Afundou as embarcações de papel.
Secou as poças d'água.
Anuviou o olhar.
Petrificou os caminhos.
Onde foi que a gente se perdeu?
Houve um tempo em que a minha rua era parque de diversões, o sol acordava cedo e as gotas sobre a plantação eram pura emoção do céu.
Havia um rio correndo logo ali, esverdeando as margens, levando folhas secas e embarcações de papel.
O vento entre os coqueirais era canção, o estalar dos galhos, o choro da criança, o fruto despencando do pé, passarinho no telhado, risada de mãe... Tudo era canção.
E quando olho o passado distante, mas tão presente, me sinto menina outra vez.
Minha alma é antiga.
Onde foi que a gente se perdeu?
Texto: Eunice Ramos
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