Na novela o Bem Amado, o prefeito Odorico é um politico oportunista, e mantinha a pompa e cicunstancia do cargo.
Consumado est?, pergunta o prefeito Odorico Paraguaçu(Paulo Gracindo) ao padre Vigário (Rogério Fróes), referindo-se ao doente terminal, primo das irmãs Cajazeiras, Ernesto, importado de Salvador para morrer em Sucupira e, assim, o prefeito poderia inaugura sua maior realização: o cemitério municipal. Na verdade a frase em latim é "consummatum est".
O personagem principal da novela 'O Bem-Amado' adorava inventar palavras: Merecedência, Democratura, Cachacistas Juramentados, Donzelas Praticantes,Talqualmente, Muambistas, Cocainistas, Maconhistas e Licitude e frases como "vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmentes", além de diversas outras mescladas entre latim e português.
O corrupto e demagogo Odorico Paraguaçu é candidato a prefeito de Sucupira e se elege com o slogan “Vote em um homem sério e ganhe um cemitério”. O problema é que não morre ninguém para que a obra seja inaugurada. Eleito, tomou posse e soltou a verborragia: "Tomo posse como prefeito desta cidade com as mãos limpas e o coração nu, despido estripitisicamente de qualquer ambição de glória. Nesta hora exorbitante, neste momento extrapolante eu alço os olhos para o meu destino e, vendo no céu a cruz de estrelas que nos protege, peço a Deus que olhe para nossa terra e abençoe a brava gente de Sucupira."
Sempre após as falas, aplausos e gritinhos ecoavam dos presentes mais exaltados e aliados de todas as horas, como as irmãs Cajazeiras – Dorotéia (Ida Gomes), Dulcinéia (Dorinha Duval) e Judicéia (Dirce Migliaccio), apaixonadas pelo coronel – e Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), seu fiel secretário pessoal, que num dos capítulos ordenou o prefeito "Seu Dirceu, convoque o deputado. Preciso ter com ele um coloquiamento apelatório catequisante".
Fissurado para que morra alguém na cidade, o prefeito resolve consentir a volta à cidade do matador Zeca Diabo (Lima Duarte), com a garantia de que ele não será preso. Há a esperança de que ele mate alguém e lhe arranje um defunto.
O prefeito só não imaginava que Zeca Diabo volta a Sucupira disposto a nunca mais matar ninguém, pois quer virar um homem correto.
E, Odorico, não perdia a oportunidade para seu falatório enaltecendo sua obra extraordinária: "Esta obra entrará para os anais e menstruais de Sucupira e do país", e durante a campanha também soltou esta pérola, "É uma alegria poder anunciar que prafentemente vocês já poderão morrer descansados, tranqüilos e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira".
Primeiro folhetim em cores da TV brasileira e primeiro a ser exportado, 'O Bem-Amado' se notabiliza justamente pelo enredo de Odorico Paraguaçu, magistralmente vivido por Paulo Gracindo.
Odorico é um politico oportunista.
"Calunismos. Eu também sou meio socialista. Não da ponta esquerda... do meio de campo, caindo pra direita!"
Errava nos entretantos e nos finalmentes, mas mantinha a pompa e circunstância do cargo. Nada de palavrões ou citações sobre as próprias hemorróidas verbais, longe disso. Repare que ele tinha lá sua elegância - tintura preta na farta cabeleira, ternos alinhados, sempre de chapéu, acento nordestino, e outras elegâncias.
O Bem-Amado é uma das mais famosas farsas sociopolítico-patológicas.
Odorico, o político, o doutor, o tribuno, Odorico, o Grande, o Pacificador, é a engraçada e irônica versão da realidade do público brasileiro, uns mais, outros menos “simpáticos”, mas todos com o mesmo objetivo: inflar o próprio ego à custa do povo, como na frase "Como diria o rei dos persas, Dario Peito de Aço, pra cada problemática tem uma solucionática. Se não disse, perdeu a oportunidade de ser citado por mim".
• Descaso com a epidemia •
Apesar do novo coronavírus (Covid-19) não existir nos anos 1970, O Bem-Amado retratou uma epidemia na ficção. A cidade de Sucupira se torna alvo de uma onda de tifo e, focado em sua estratégia de deixar alguém morrer no local para inaugurar o cemitério, Odorico faz vistas grossas para vacinar todos.
É assim foi o prefeito Odorico Paraguaçu, criado pelo ilustre baiano Dias Gomes, autor de outras obras de excelência. Leia algumas pérolas do prefeito:
- "É com a alma lavada e enxaguada que lhe recebo nesta humilde cidade"
- "Vamos dar uma salva de palmas a esta figura trepidante e dinamitosa que foi o Seu Nono"
- "Quem é que pode viver em paz mormentemente sabendo que, depois de morto, defunto, vai ter que defuntar três léguas pra ser enterrado?"
- "Vexame para o nosso prefeito, agora em estado de defuntice compulsória, ter que andar três léguas para ser enterrado."
- "Se eleito nas próximas eleições, meu primeiro ato como prefeito será o de cumprir o funéreo dever de mandar fazer o construimento do cemitério municipal."
- "Isto deve ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta"
- "Meu caro jornalista, isso me deixa bastantemente entristecido, com o coração afogado na daceptude e no desgosto. Numa hora em que eu procuro arrancar o azeite-de-dendê do estágio retaguardista do manufaturamento (...), me vêm com esse acusatório destabocado somentemente porque meia dúzia de baiacus apareceram mortos na praia."
-"Seu Dirceu, não fique aí com essa cara de seu-Malaquias-cadê-minha-farofa! Tome os providenciamentos necessários!"
- "O senhor não vai matar, vai suicidar o homem apenasmente..."
- "Pare com esse perguntório e essa cara de disenteria. Temos é que tratar dos providenciamentos inauguratícios do cemitério".
-"Vai ter uma confabulância político-sigilista sobre as nossas politicas".
Autoria: Dias Gomes
Supervisão: Daniel Filho
Direção: Régis Cardoso
Período de exibição: 22/01/1973 a 03/10/1973
Nº de 178 capítulos.
Trilha Sonora: 11 canções de Toquinho e Vinicius de Morais.
Matéria: Wesley Faustino
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